Na cerimônia do Oscar 2025 um dos melhores filmes de 2024 (na minha opinião, o Melhor!) foi indicado a 5 estatuetas incluindo a de Melhor Filme e foi agraciado com 2 premiações: Melhores Efeitos Visuais e Melhor Som. Trata-se de Duna: Parte 2, filme sequência de Denis Villeneuve que adaptou a obra literária de Frank Herbert. Para quem não sabe este filmaço é também um remake de um filme bem mediano dos anos 80, dirigido pelo saudoso David Lynch. E este filme não foi o único remake a receber indicações indicações ao Oscar deste ano, tivemos também Nosferatu, remake do clássico homônico de 1922.
Dito isto, enquanto algumas obras devam permanecer intocadas como a trilogia De Volta para o Futuro () e os filmes Curtindo a Vida Adoidado () e há sim espaço para remakes de alguns filmes do passado, e os anos 80 são um baú de tesouros para garimpar obras dignas de readaptações ou de sequências.
Para os próximos anos, inclusive, já temos alguns remakes em produção:
- La Bamba (1987) – A cinebiografia do cantor Ritchie Valens, interpretado no clássico por Lou Diamond Phillips.
- Highlander: O Guerreiro Imortal (1986) – Henry Cavill já foi anuncionado como o protagonista Connor MacLeod e o diretor Chad Stahelski (John Wick) comanda a história do espadachim escocês imortal.
- O Sobrevivente (The Running Man, 1987) – Este clássico de ficção científica, com um futuro distópico, protagonizado por Arnold Schwarzenegger em adaptação a um livro de Stephen King terá um remake protagonizado por Glen Powell (Todos menos Você e Twisters) e dirigido por Edgar Wright (Em Ritmo de Fuga).
- A História sem Fim (The NeverEnding History, 1984) – Este grande clássico de fantasia infanto-juvenil, baseado no best-seller de Michael Ende ganhará uma série de longa-metragens nos próximos anos: Falkor e Atréyu estão de volta!
Na matéria de hoje resgatei três grandes clássicos de Ficção Científica, que fizeram um sucesso absurdo nas videolocadoras e na TV aberta dos anos 80, e que em minha opinião merecem um remake para as novas gerações!
FLASH GORDON (1980)
Inspirado nos quadrinhos de ficção científica criados em 1934 por Alex Raymond, este clássico cult, com visual retrô e deliciosamente brega (!) de 1980 já era um remake de um longa-metragem de 1936, que também teve seu universo retratado em séries e outros filmes para TV. O personagem Flash Gordon, criado em 1934 pelo cartunista Alex Raymond, transformou-se em um sucesso mundial com suas tiras diárias publicadas em centenas de jornais. Nos anos seguintes, vieram novelas de rádio, seriados para as matinês de cinema e romances literários.
Na trama do filme, uma mistura de ópera espacial, ficção científica e aventura com super-herói o jogador de futebol americano Gregory Flash Gordon (Sam J. Jones) e a repórter Dale Arden (Melody Andeson) são “sequestrados” pelo amalucado Dr. Hans Zarkov (Chaim Topol). A Terra está sendo afetada pela proximidade do planeta Mongo e o desacreditado doutor quer usar seu foguete para investigar o que está acontecendo. Chegando ao planeta, os três são levados à majestosa presença do Imperador “Ming, o Impiedoso” (Max von Sydow), que logo se interessa por Dale e pelo intelecto do Dr. Zarkov. Flash, por sua vez, é alvo de lascívia da Princesa Aura (Ornella Muti), que o ajuda a escapar depois da inesquecível sequência em que o herói usa “ovos” cerimoniais para derrubar o exército de Ming em uma espécie de jogo de futebol americano letal. A partir dali, o roteiro é como uma corrida de obstáculos em que Flash conhece o Príncipe Barin (Timothy Dalton), pretendente à mão de Aura, e o avantajado e alado Príncipe Vultan, que se tornariam seus aliados para derrubar o Imperador.
Imagem: themoviedb.org
Reconheço que este é um filme complicado de se adaptar para os dias atuais. Absolutamente galhofa, mal desempenho (nem o talentoso Max von Sydow consegue escapar da caricatura de “grande vilão dos anos 80”) e com figurinos bem bizarros, com uma inspiração clara no estilo camp semelhante à série de TV do Batman dos anos 60, Flash Gordon ficou muito marcado na história do cinema como um filme Cult (e brega) de Ficção Científica. Suas cenas são datadas e até hilárias, e os cenários parecem de tinta guache em alguns momentos. Porém, vale lembrar que Flash Gordon é uma das pedras fundamentais de inspiração para a criação de Star Wars e merece muito ser apresentado para uma nova geração. Outro motivo para assistir ao filme e a um possível remake é a sensacional trilha sonora, composta e gravada pela banda inglesa Queen no auge do sucesso.
Na minha opinião, um remake deste clássico, com a pegada nonsense de humor ácido de Taika Waititi em seus momentos inspirados (O que fazemos nas Sombras, Thor: Ragnarok, Jojo Rabbit são bons exemplos), mantendo parte da galhofa e o componente trágico de ópera espacial, com um elenco escolhido a dedo e com a mesma trilha sonora maravilhosa do Queen, tem tudo para se tornar um sucesso absoluto em bilheteria, com o apreço do público e, quem sabe, até da crítica.
Para quem quiser assistir ao clássico na versão oitentista, ele se encontra disponível no catálogo do Prime Video.
Minhas sugestões de equipe técnica para um remake
Diretor: Taika Waititi (Jojo Rabbit), que segundo rumores já roteiriza este remake desde 2020, mas sem nada ainda concreto.
Elenco: Chris Hemsworth ou Alan Rickson como Flash Gordon, Willem Dafoe como Imperador Ming, Gael García Bernal como Dr. Hans Zarkov, Mia Goth como Princesa Aura, Sosie Bacon como Dale Arden, Jason Momoa como Príncipe Vultan.
Curiosidades:
- De acordo com uma entrevista de agosto de 1981 na revista Starlog, Dino De Laurentiis, produtor do filme, queria que Kurt Russell interpretasse Flash Gordon. Russell recusou o papel porque achou que faltava personalidade ao personagem.
- Dino De Laurentiis considerou contratar Sergio Leone (Era uma vez no Oeste, Três Homens em Conflito) para dirigir o filme. Leone recusou porque acreditava que o roteiro não era fiel às histórias em quadrinhos originais.
- O diretor Mike Hodges considerou contratar o Pink Floyd para compor a música. A trilha sonora acabou, no entanto, nas mãos do Queens e é, até hoje, muito aclamada.
- O filme e o ator Sam J. Jones são homenageados, de forma irônica, no filme Ted (2012). E assim como retratado no longa de comédia, o filme de 1980 e seus atores ainda vivos são aclamados em feiras e encontros nerds pelos Estados Unidos.
- Na história em quadrinhos original, Flash era jogador de pólo, mas esse era um esporte menos popular em 1980 do que em 1934, então Flash se tornou quarterback do New York Jets.
- O figurino de Ming usado por Max von Sydow pesava mais de 30 quilos. Ele só conseguia ficar em pé por alguns minutos de cada vez.
- Durante as páginas dominicais de 1936 Flash Gordon foi transformado em um ser submarino. Ele podia respirar em baixo d’água e nadar mais rápido que o normal. Sua transformação, portanto, serviu de base para a criação de diversos heróis submarinos como Namor e Aquaman.
KRULL (1983)
Diferente do filme acima, mais voltado para a comédia (involuntária) e para a aventura espacial, Krull é um filme britano-estadunidense, lançado em 1983, de ficção científica, fantasia, ação e aventura, mas com um tom mais sério e dramático. Na trama, dirigida por Peter Yates, assistimos a uma história no planeta Krull, onde dois reis decidem unir os seus filhos em casamento, Colwyn (Ken Marshall) e Lyssa (Lysette Anthony), com o intuito de estreitar os laços das duas nações e assim combater a invasão dos Assassinos. A cerimônia de matrimônio é invadida pelos Assassinos, criaturas servas da Besta, que sequestram a princesa Lyssa e a levam para seu mestre que pretende desposá-la, além de deixar Colwyn para a morte.
Colwyn recebe a ajuda de Ynyr (Freddie Jones), um velho sábio que o guiará até a Fortaleza Negra, o covil da Besta. No entanto, a Fortaleza Negra é teletransportada todas as manhã para uma nova localização, forçando o personagem a tentar encontrá-la. Durante o percurso, o herói encontra diversos personagens como: Rell (Bernard Bresslaw), o ciclope; Ergo (David Battley), o mago; e um grupo de mercenários fugitivos liderados por Torquil (Alun Armstrong).
Imagem: imdb.com
Para desenvolvimento do filme, o roteirista Stanford Sherman aproveitou-se de alguns sucessos da época, como Star Wars, Conan e aventuras de espada e feitiçaria, para criar uma aventura inesquecível dos anos 80.
Tido hoje como um clássico cult, o filme criou um universo que mesclava tons medievais com tecnologia alienígena e muita ação, com toques de terror e de drama, mas com uma cinebiografia que não envelheceu muito bem. As atuações não são muito boas, mas ainda assim o filme continua marcado pelo tom aventuresco típico dos anos 80. Vale muito a pena, portanto, um remake deste clássico num tom mais sério e dramático, trazendo algumas atualizações para dar corpo à história trágica do bem contra o mal.
Para quem quiser reassistir ou dar uma chance a este clássico cult, ele se encontra disponível no catálogo do Prime Video.
Minhas sugestões de equipe técnica para um remake
Diretor: Paul Verhoeven (Robocop) ou Robert Eggers (A Bruxa e O Homem do Norte)
Elenco: Austin Butler como Colwyn, Florence Pugh como Lyssa, Sean Bean como Ynir, Vinnie Jones como o ciclope Rell.
Curiosidades:
- Liam Neeson está no elenco. Ele faz Kegan. E a sua morte é bem parecida com a de Qui-Gon Jinn em Star Wars.
- Krull foi um dos filmes mais caros da época: 33 sets foram construídos.
- A Glaive (arma em formato de estrela) aparece na sequência final da batalha do Jogador Número 1 (2018), usada por Sho.
- Foi gravado majoritariamente em Lanzarote, no arquipélago de Canárias localizado na Espanha, além de outros locais na Europa, principalmente no Reino Unido.
- O filme foi um fracasso comercial! Até ganhou como Pior Filme do Stinkers Bad Movie Award em 1983. Porém, se tornou um clássico Cult nas videolocadoras e na TV, e ganhou uma legião de fãs.
- Há um documentário promocional sobre o making-of do filme, intitulado Jornada para Krull lançado em 1983.
- Foram lançados jogos com a temática do filme, todos com o mesmo nome, incluindo um jogo de tabuleiro e um jogo de cartas, sendo ambos lançados em 1983, mesmo ano de lançamento do filme. Também foi lançado um jogo para Atari.
A MOSCA (The Fly, 1986)
Já nesta ficção científica clássica de David Cronemberg, não temos nada de tons aventurescos ou de comédia. Em A Mosca, refilmagem do clássico A Mosca da Cabeça Branca (1958), tradução intersemiótica do conto The Fly, de George Langelaan, temos uma história trágica e dramática, com tons de terror e cenas incríveis de body horror (horror corporal), criadas com efeitos práticos e que até nos dias de hoje são impressionantes.
O filme conta, de forma linear e muito bem dirigida, a história do cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum), que consegue achar um meio de se teletransportar. Enquanto inicia um romance conturbado com Veronica “Ronnie” Quaife (Geena Davis), o cientista realiza experimentos e, durante um deles, acaba fundindo seu DNA com o de uma mosca, o que o faz se transmutar no inseto no decorrer da trama. Desde a primeira cena, Jeff Goldblum já tem ares de um cientista megalomaníaco e sem limites, e sua atuação é ótima, cumprindo bem seu papel. A carga dramática fica mais para Geena Davis, e pelos olhos de sua personagem assistimos de camarote o horror das etapas de transformação do amado.
Imagem: imdb.com
Muito aclamado pela crítica e pelo público em seu lançamento, o filme conquistou um Oscar de Melhor Maquiagem em 1987, e é reconhecido hoje não somente como um dos melhores filmes de Cronemberg, mas como um dos melhores filmes de terror e de ficção científica de todos os tempos.
Dito isso, este é um filme que merece um remake nos dias de hoje para apresentar a obra a novas gerações. Entretanto, há um enorme cuidado a se tomar quanto ao tom do filme, que facilmente poderia se tornar um Sharknado em mãos incompetentes. Desde que com efeitos práticos, com um elenco certo e com uma direção centrada no horror, não tenho dúvidas que seria um enorme sucesso.
Para quem quiser assistir a este clássico de Sci-Fi e horror, ele se encontra disponível no catálogo do Disney+.
Minhas sugestões de equipe técnica para um remake
Diretor: Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno)
Elenco: Sebastian Stan (Um Homem Diferente) como Seth Brundle e Emma Corrin (The Crown) como Veronica “Ronnie” Quaife.
Curiosidades:
- Jeff Goldblum não era a primeira opção. O papel de Seth Brundle foi primeiro oferecido a Michael Keaton, que não gostou do enredo. Achou que era muito nojento.
- Apenas a preparação para o papel levava 5 horas na maquiagem e o conjunto da cabeça para quando Jeff Goldblum já estava totalmente transformado tinha quase 3 quilos.
- Em várias cenas, Geena Davis admitiu que ficou genuinamente enojada, como naquela em que a orelha de Seth cai. É só reparar no rosto dela para notar que o nojo é real. Geena Davis, aliás, era namorada de Jeff Goldblum na época.
- O filme faz parecer bem rápido, mas a transformação de Seth de humano para mosca leva quatro semanas e seis dias para terminar.
- Mel Brooks, famoso por suas comédias, é também um grande fã de filmes de terror e não queria que soubessem de seu envolvimento com a produção do longa, temendo que não o levassem a sério quando estreasse.
- Havia planos para uma sequência do filme, contando com Geena Davis, chamada Flies, que contaria a história de sua personagem e dos gêmeos que ela teria com Seth. Porém, o projeto nunca saiu da gaveta. O projeto aprovado virou A Mosca 2, de 1989, com Eric Stoltz fazendo o papel do filho de Seth.
- O diretor do filme inicialmente tinha negado a direção de A Mosca. Depois de uma carta de Mel Brooks para o estúdio e de um milhão de dólares, ele aceitou a tarefa. Ele inclusive faz uma ponta no filme, como médico, na cena de sonho em que Veronica está dando à luz.
- As câmaras de teletransporte criadas por Seth foram, originalmente, inspiradas nos cilindros da Ducati 450 Desmo que pertencia ao diretor. Fanático por velocidade, o nome de Seth Brundle foi inspirado no nome de Martin Brundle, piloto de Fórmula 1.
- A frase “Be afraid, be very afraid” (Tenha medo, tenha muito medo) se espalhou, tendo aparecido em várias séries e filmes. Pouca gente, porém, sabe que ela se originou em uma fala de Geena Davis neste filme. Mel Brooks a criou enquanto discutiam como os personagens deveriam reagir diante da cena da transformação.