Na próxima sexta-feira, 27 de setembro, celebra-se o Dia Nacional da Doação de Órgãos, uma data criada para conscientizar a sociedade sobre a importância desse gesto solidário que salva vidas. Durante todo o mês de setembro, conhecido como Setembro Verde, campanhas são realizadas para estimular a conversa entre famílias e amigos sobre o tema.
Segundo o médico intensivista e Coordenador da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante do Hospital Márcio Cunha, Dr. Emerson Damasceno Moura, a campanha pretende estimular as pessoas para que conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto. “O Brasil hoje tem o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo e é responsável pelo financiamento de cerca de 95% dos transplantes no país. Apesar disso, trata-se ainda de um tema polêmico de difícil entendimento, que resulta em um alto índice de recusa familiar, fato que não ocorre só no Brasil, mas também em outros países”, declara.
Segundo o médico, um único doador falecido pode salvar até oito vidas, por meio da doação de órgãos como coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas. Em casos de doação em vida, os órgãos que podem ser doados são mais limitados, como um rim, parte do fígado ou até parte do pulmão em situações excepcionais. Também é possível a doação de medula óssea, um processo essencial para o tratamento de diversas doenças.
De acordo com a legislação vigente, não há necessidade de deixar um documento ou testamento indicando o desejo de ser doador. A decisão cabe exclusivamente à família, e por isso é essencial que as pessoas discutam esse assunto em vida, expressando sua vontade de doar ou não seus órgãos, como explica Dr. Emerson. “Quem deve e pode autorizar a doação em casos de morte encefálica é somente a família. Para tomar essa decisão, o ideal é que estejam cientes da vontade do indivíduo. A única forma de ser um doador pós-morte é discutindo o assunto em vida com seus familiares, o que permitirá a todos que participarem dessa conversa revelarem-se doadores ou não”, reforça o médico sobre a importância do diálogo.
Após a autorização familiar, o processo de transplante é coordenado pelas Centrais de Transplantes de cada estado. No caso de Minas Gerais, o MG Transplantes é o órgão responsável por conectar doadores e receptores por meio de uma lista única, que considera a gravidade do estado de saúde e a compatibilidade entre doador e receptor.
O sistema de transplantes no Brasil é baseado em critérios técnicos e éticos, como explica o médico. “Os receptores são separados de acordo com as necessidades e conforme o órgão que necessitam, tipo sanguíneo e outras especificações técnicas. Esse sistema de lista única tem ordem cronológica de inscrição e os receptores são selecionados em função da gravidade ou compatibilidade sanguínea e genética. Crianças, por exemplo, têm prioridade quando o doador é também uma criança ou quando estão concorrendo com adultos”, explica.
O médico relata que o principal desafio enfrentado na doação de órgãos é a dificuldade de compreensão, por parte dos familiares, sobre a morte encefálica — condição que permite a doação de órgãos. “A incompreensão sobre a morte encefálica, pelos familiares, somada à falta de preparo das equipes em comunicar essa questão, além de motivos religiosos, faz com que haja alta recusa pela doação de órgãos pelas famílias”, ressalta o médico.
A doação de órgãos pode representar a única chance de sobrevivência para muitos pacientes. Por isso, é essencial que a população se conscientize sobre a importância desse gesto. “Recomendamos que as pessoas discutam com seus familiares sobre doação de órgãos, que expressem seu desejo de doar ou não seus órgãos. Essa simples conversa permitirá aos familiares tomarem uma decisão rápida e consciente, caso a situação se apresente. Doar órgãos é doar vida. Pense sobre isso, converse com seus familiares e contribua para salvar vidas”, finaliza o médico.