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CUIDAR DE QUEM CUIDA: O AFETO COMO REDE DE APOIO PARA A FAMÍLIA ATÍPICA

Por 01/03/2025No Comments5 min de leitura

As famílias atípicas, muitas vezes, tentam ser super-heróis, assumindo todas as responsabilidades sem demonstrar fraqueza. A paternidade e principalmente a maternidade envolvem sacrifícios, como dedicação em tempo integral e noites mal dormidas, mas quando se trata de mães de crianças atípicas, esses desafios são potencializados. Este texto propõe uma reflexão sobre “Cuidar de quem cuida”, destacando a importância do acolhimento a essas famílias e da necessidade de se atentarem ao próprio bem-estar.

O autismo é um Transtorno do Neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na interação social, na comunicação verbal e não verbal, e por comportamentos restritivos e/ou ritualísticos. Questões sensoriais também podem influenciar significativamente o comportamento desses indivíduos, resultando em hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos como luz, som, cheiros e temperatura. Outros desafios incluem alterações no sono e falta de noção de perigo. Além do autismo, outras condições neurodivergentes, como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), dislexia, transtornos de aprendizagem e outros, também impõem desafios significativos para as famílias, exigindo adaptação, paciência e suporte contínuo. Diante dessas dificuldades, os cuidadores, especialmente as mães, enfrentam uma carga emocional e física intensa.

As cobranças internas e externas são intensas, mesmo com os avanços na participação paterna, a responsabilidade pelos filhos ainda recai majoritariamente sobre as mães. No caso de crianças autistas, que podem não responder aos métodos tradicionais de educação, as cobranças são constantes, muitas vezes resultando em sentimentos de culpa e frustação.

Outra questão a destacar é a  dupla ou tripla jornada de muitas mães de atípicas e cuidadores que  acumulam diversas funções: trabalho fora, afazeres domésticos e cuidados intensivos com os filhos. Além disso, precisam acompanhar terapias, reforçar aprendizados e lidar com crises e comportamentos desafiadores. Algumas acabam abandonando a carreira e a vida social para se dedicar exclusivamente ao filho. Além também da falta de rede de apoio, porque muitas dessas mães são abandonadas por seus companheiros, antes dos filhos completarem cinco anos. E a ausência de um sistema de apoio agrava a sobrecarga emocional e física dessas mulheres. Impactos na Saúde Física e Psicológica.

O estresse dessas mães pode ser comparado ao de soldados em combate, segundo um estudo do Journal of Autism and Developmental Disorders (2008). Outras pesquisas apontam altos níveis de depressão e ansiedade. Um estudo publicado na Plos One (2014) revelou que mães de crianças autistas ou com deficiência intelectual têm um risco muito maior de mortalidade por doenças cardiovasculares, câncer e causas externas, como acidentes e suicídio.

O acolhimento  e afeto às famílias atípicas são essenciais para garantir não apenas o bem-estar dos membros da família, mas também o desenvolvimento saudável de seus filhos. Escuta empática, incentivo ao autocuidado e suporte emocional são fundamentais. É de suma importância informar essas mães sobre recursos e estratégias para lidar com os desafios cotidianos, seria  uma forma de emponderá-las.

As famílias atípicas enfrentam desafios únicos que exigem dedicação, paciência e resiliência. No entanto, no meio dessa jornada intensa de cuidados e adaptações, é essencial que esses pais e cuidadores  também se atentem ao próprio bem-estar. Cuidar de uma criança com necessidades especiais demanda tempo e energia, mas negligenciar a própria saúde física e emocional pode resultar em exaustão, ansiedade e até dificuldades para oferecer o suporte necessário ao filho.

O autocuidado não é um luxo, mas uma necessidade. Buscar momentos de descanso, estabelecer uma rede de apoio, compartilhar responsabilidades e procurar ajuda profissional quando necessário são atitudes fundamentais. Além disso, cuidar da saúde mental, praticar atividades prazerosas e manter conexões sociais ajudam a fortalecer a resiliência e a qualidade de vida desses pais.

A ideia de que se deve dar tudo pelo filho sem olhar para si mesmo pode ser prejudicial a longo prazo. Um cuidador sobrecarregado tem menos paciência e energia para lidar com os desafios diários. Por isso, ao se priorizar de maneira equilibrada, as famílias não apenas melhoram sua própria qualidade de vida, mas também garantem um ambiente mais saudável e acolhedor para a criança atípica.

O cuidado começa de dentro para fora. Ao se fortalecer, as famílias e os cuidadores  se tornam mais preparados para oferecer o amor e a dedicação que seus filhos precisam. Cuidar de quem cuida é uma responsabilidade coletiva e, ao fortalecer essas mulheres e famílias, estamos também contribuindo para um futuro mais inclusivo e compassivo.

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