“Eu trabalho muito para estabelecer estereótipos e depois esmagá-los com um martelo.” – Taylor Sheridan
Eleito em 2023, pelo Hollywood Repórter, como o produtor e roteirista mais importante do ano, Taylor Sheridan tem a série “Yellowstone” (2018-2024) como seu grande divisor de águas, iniciando sua trajetória de sucessos que lhe outorgou o título de “Rei das Séries”. Mas de onde surgiu esta genialidade e como ele conseguiu se manter no ápice durante todos estes anos?
Um autêntico cowboy dos tempos modernos
No verão de 1969, em Chapel Hill, Califórnia/EUA, nascia Sheridan Taylor Gibler, Jr., que mais tarde adotaria o nome de Taylor Sheridan. Filho de Sheridan Taylor Gibler, um cardiologista de Houston, Texas, e de Susan (nascida Harwell) Gibler, ele foi criado em Waco, Texas, e passava muito tempo no rancho de sua família em Cranfills Gap. Suas experiências no rancho foram cruciais para estabelecimento da base dos roteiros de muitas de suas obras, criadas anos mais tarde. Depois que os pais de Sheridan se divorciaram, sua mãe vendeu a propriedade, mas ele nunca se desvencilhou deste universo.
Ainda residindo em Fort Worth, Sheridan chegou a estudar teatro e atuar localmente, sem muito sucesso, trabalhando como pintor de casas e em alguns outros trabalhos locais até ser abordado por um agente de talentos que o encorajou a seguir a carreira de ator. Mudou-se anos depois, para Chicago e depois para Nova York até se estabelecer em Los Angeles. Apesar de alguns papéis menores em filmes e séries como Veronica Mars e Sons of Anarchy, foi como roteirista que ele acabou se encontrando em Hollywood.
Sem nunca negar suas raízes, em 2021 Sheridan se juntou a um grupo de investidores para comprar o lendário Rancho 6666 (Four Sixes) por mais de 300 milhões de dólares. Com mais de 266.000 acres (mais de 1 milhão de hectares), este lendário rancho é um dos maiores e mais famosos dos Estados Unidos, reconhecido por sua rica história, pela criação de prestigiados cavalos da raça quarto de milha e por operações pecuárias de renome mundial. O rancho inclusive é palco de muitas de suas obras, principalmente de Yellowstone.
Sheridan se mostrou extremamente eficaz como roteirista. Ele assina todos (isso mesmo, todos!) os roteiros de todos (!) os episódios de suas séries, e consegue manter em todas, um alto nível de qualidade.
Dentre suas fórmulas de sucesso, enumero algumas que se tornaram padrões em cada uma de suas obras:
- Há sempre um grande astro (ou dois) encabeçando o elenco. Kevin Costner em Yellowstone, Harrison Ford e Helen Mirren em 1923, Sylvester Stallone em Tulsa King, e por aí vai.
- Com o reconhecimento de público e crítica, outros astros famosos têm participações especiais em suas obras como Danny Huston, Tom Hanks, dentre outros.
- Todas as histórias têm personagens fortes, moldados por histórias dramáticas e uma resiliência ímpar.
- Todas as séries abordam temas universais, como direito a propriedade, contextos familiares, tradição e relações entre comunidades.
- As personagens femininas, mesmo quando não são protagonistas, são apresentadas como personagens fortes e resilientes.
- Todos os núcleos das tramas conseguem se manter relevantes e se encaixam no contexto da história.
Yellowstone, onde tudo começou
Em 2018, após entregar o roteiro de sua primeira e até então, última sequência cinematográfica (Sicario: Dia do Soldado), Sheridan estreou como roteirista e produtor de sua primeira série televisiva. Em 20 de junho, estreava a despretensiosa série “Yellowstone” pela Paramount Network, um canal de TV por assinatura estadunidense.
Tendo como principal atrativo a escalação do já consagrado ator Kevin Costner, Yellowstone conta a saga fictícia da família Dutton que, liderada pelo patriarca John Dutton (Costner), é dona do maior rancho dos Estados Unidos, localizado no estado de Montana, há quase 100 anos. As terras em abundância dos Dutton entram na mira de pessoas e de organizações gananciosas, que acham um desperdício tanta terra ser usada apenas para pecuária. Há ainda conflitos com os indígenas, que se consideram donos da terra usurpada deles no passado, e com o governo, que inescrupulosamente tenta pegar sua fatia do bolo.
O núcleo familiar do viúvo patriarca John Dutton (Costner) é composto pela filha Beth (Kelly Reilly, magistral no papel!), pelo filho caçula Kayce (Luke Grimes) e pelo filho adotivo Jamie (Wes Bentley). No núcleo dos cowboys do rancho, destacam-se os personagens Rip Wheeler (Cole Hauser), o supervisor/capataz do Rancho e interesse amoroso de Beth, e alguns vaqueiros recorrentes da série, como Lloyd Pierce (Forrie J. Smith) e Colby Mayfield (Denim Richards). No núcleo indígena, Thomas Rainwater (Gil Birmingham), Mo Brings Plenty (homônimo) e Monica Dutton (Kelsey Asbille) se destacam.
Durante as 5 temporadas da série, finalizada em dezembro do ano passado, acompanhamos encantados a família Dutton e os cowboys do Rancho Yellowstone lutando contra empresários, invasores, políticos e indígenas, nos dias atuais, para manter as terras, sempre mesclando o dia a dia do rancho com os conflitos e dramas familiares, políticos e filosóficos. Com atuações marcantes, em especial de Kevin Costner, de Kelly Reilly e de Cole Hauser, a série é uma miscelânea divertidíssima de drama, romance, ação e vingança, um faroeste dos dias atuais, com um texto afiadíssimo e com personagens memoráveis.
Com aprovação de 83% dos críticos no Rotten Tomatoes e com nota 8.6 no IMDB, a série está disponível na íntegra no Paramount+ e até sua 4ª temporada na Netflix.
Em 2018 a série já era a mais assistida em canais fechados dos Estados Unidos, mas estourou em popularidade em 2022, quando se tornou a série de maior audiência da TV norte-americana. Mais de 16 milhões de pessoas assistiam a saga todas as semanas, batendo todas as produções daquele ano, mesmo as de canal aberto.
A Paramount, percebendo o ouro que tinha em mãos, não perdeu tempo e ofereceu um novo contrato de US$200 milhões para que Taylor Sheridan estabelecesse uma franquia da saga dos Dutton, mas que também continuasse com outros projetos para o canal.
Mayor of Kingstown, um faroeste moderno (e violento) no universo carcerário
Em 2021, com o sucesso de Yellowstone já chegando ao seu auge, Sheridan roteirizou e produziu outro grande sucesso, a série O Dono de Kingstown (Mayor of Kingstown), que estreou pela Paramount em novembro daquele ano. Estrelada por Jeremy Renner e Dianne Wiest, a série de drama criminal e suspense acompanha a poderosa família McLusky, da cidade fictícia de Kingstown, em Michigan, região cuja principal “fonte de renda” são suas nove penitenciárias. Jeremy Renner (o Gavião Arqueiro do universo Marvel) é o grande protagonista Mike McLusky, o “prefeito” não oficial da cidade, que comanda por baixo dos panos as 9 prisões e, assim, tem acesso direto ao crime organizado, lucrando com várias negociações ilegais.
A 3ª temporada estreou quase 18 meses depois de Renner ser hospitalizado em condições críticas após sofrer um grave acidente limpando neve. Após ter sofrido “trauma no tórax e ferimentos ortopédicos”, precisando passar por duas cirurgias, o ator teve que ficar internado em uma Unidade de Terapia Intensiva. Dias depois, Renner recebeu alta e revelou ao público que chegou a quebrar mais de 30 ossos.
Com aprovação de 81% do público no Rotten Tomatoes e com nota 8.2 no IMDB, a série está disponível na íntegra no Paramount+, e foi renovada recentemente para sua 4ª temporada.
1883, o primeiro spin-off de Yellowstone
Em dezembro de 2021, estreava o primeiro episódio da minissérie “1883“. Roteirizada e produzida por Taylor Sheridan, os 10 episódios do faroeste e drama de época acompanham uma antiga geração da família Dutton enquanto fazem a jornada do Texas para Montana no ano de 1883. A trama segue James Dutton (Tim McGraw), avô de John Dutton (Kevin Costner), enquanto ele tenta construir o que virá a se tornar o grande rancho Yellowstone. Em companhia de sua esposa Margaret (Faith Hill) e dos filhos Elsa (Isabel May) e John (Audie Rick), além de sua irmã e sobrinha, na expectativa de construir uma vida melhor, o patriarca John Dutton atravessa o então perigosíssimo meio-oeste americano enfrentando bandidos inescrupulosos, indígenas nativos da região e a perigosa e imponente natureza.
Com o casal de protagonistas interpretado com maestria pela dupla de cantores country Tim McGraw e Faith Hill, o elenco é encabeçado pelo consagrado ator Sam Elliot, que interpreta o trágico personagem Shea Brennan, que com seu amigo Thomas, papel do ator LaMonica Garrett, conduz a família Dutton e vários outros colonos pelas incríveis e perigosas paisagens do oeste estadunidense.
Além de Sam Elliot e do casal de protagonistas, um dos destaques da série é a atuação magistral da jovem atriz Isabel May como Elsa Dutton. Ela não somente narra toda a obra como encanta com sua trajetória de amor, drama e aventura. A fotografia e o tom épico da minissérie também a consolidam como a maior obra de faroeste dos últimos 20 anos.
A obra também tem participações especiais de Billy Bob Thornton, como o Xerife Jim Courtright, e de Tom Hanks, como o General George Meade, num breve mas muito impactante flashback do protagonista.
Com aprovação de 89% dos críticos no Rotten Tomatoes e com nota 8.7 no IMDB, a minissérie completa se encontra disponível no catálogo do Paramount+.
Tulsa King, a série de máfia de Stallone
Feito sob medida para o astro Sylvester Stallone, estreou em novembro de 2022 “Tulsa King“, uma série de máfia com drama, suspense, ação e comédia que se tornou um novo hit da Paramount+ desde seu primeiro episódio. A série conta a história de Dwight Manfredi (Stallone), um capo (assassino) da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de assumir um assassinato para sua “família do crime”. Após cumprir toda a pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, o protagonista é expulso e isolado em Tulsa, uma cidade do interior do estado de Oklahoma, sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito. Com muito carisma e totalmente alheio às mudanças tecnológicas e culturais depois de 25 anos isolado do mundo, Manfredi decide se tornar o novo rei do crime da pequena cidade de Tulsa, aliciando novos membros para sua nova “família”.
Tulsa King é a grande estreia de Stallone no universo em expansão das séries via streaming, e seu Dwight Manfred domina toda a série exalando carisma do primeiro ao último episódio das 2 temporadas. Nosso eterno Rocky Balboa transita muito bem entre o drama do pai consternado, que tenta resgatar os laços com sua filha Tina (Tatiana Zappardino), e a comédia e a ação do mafioso líder, sempre persuasivo, charmoso, inteligente e deveras violento.
É sensacional acompanhar também o amadurecimento e o declínio moral de personagens como o motorista Tyson (Jay Will) e o pequeno empreendedor Bodhi (Martin Starr), envolvidos na nova “família” liderada pelo General que veio como um furação de Nova Iorque.
Entre intrigas com sua antiga família mafiosa de Nova Iorque, com uma gangue de motocicletas local e com novos criminosos interpretados por Neal McDonough e Frank Grillo, a saga de máfia de Stallone se tornou um enorme sucesso da Paramount, e já tem garantidas pelo menos mais 2 temporadas, com a possibilidade de expansão com novos spin-offs.
Com aprovação de 89% dos críticos no Rotten Tomatoes e com nota 8.0 no IMDB, as 2 temporadas da série estão disponíveis no catálogo da Paramount+.
Na próxima semana, apresentarei a 3ª e última parte do portfólio de séries incríveis de Taylor Sheridan, além de dar um panorama sobre os projetos ainda vindouros do autor.