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TAYLOR SHERIDAN, O REI DAS SÉRIES, E SUAS OBRAS GENIAIS – 3ª e última parte

Por 07/02/2025No Comments13 min de leitura

Inventei pequenos mantras para mim, bordões de um livro de roteiros que não existe. Uma delas é ‘Escreva o filme que você pagaria para assistir’. Outra é ‘Nunca deixe um personagem me dizer algo que a câmera possa me mostrar’.” – Taylor Sheridan

1923, a segunda série prequela épica dos Duttons

Com o sucesso de público e de crítica de 1883, a 1ª série prequela do universo de Yellowstone, a estratégia da Paramount com os prelúdios da saga dos Dutton estava mais que validada. Em dezembro de 2022 estreou, então, o novo spin-off dos antepassados de John Dutton, a série 1923, que se passava 40 anos após a épica aventura anterior. Na trama épica, dramática e com o gênero western permeando todo o enredo, somos apresentados a uma nova geração da família Dutton que segue lutando para sobreviver num período rico em situações dramáticas, ambientado 5 anos após o fim da 1ª Guerra Mundial (1916-1918) e já enfrentando a Lei Seca (1920=1933) e o início da Grande Depressão Americana (1929-1941). E como se não bastassem estes desafios, a família enfrenta ainda secas históricas, pandemias e inimigos poderosos que ameaçam a posse de suas terras.

Novamente roteirizada e produzida por Taylor Sheridan, a trama é dividida em 3 grandes núcleos. No primeiro e principal, conhecemos os atuais donos do Rancho Yellowstone, Cara Dutton (Helen Mirren) e Jacob Dutton (Harrison Ford), um casal de idosos que comanda Yellowstone com a ajuda de Jack Dutton (Darren Mann). Depois que o rancho é ameaçado por disputas com fazendeiros locais, principalmente o maligno Banner Creighton (Jerome Flynn, de Game of Thrones), o magnata Donald Whitfield (Timothy Dalton) decide se aproveitar da situação para tentar adquirir o terreno dos Dutton. O casal de astros domina as telas com ternura e aflição, abordando temas interessantes como arrependimento, mortalidade, velhice, resiliência e, principalmente, legado.

No 2º núcleo, que pela primeira vez neste universo se passa fora dos Estados Unidos, somos apresentados a Spencer Dutton (Brandon Sklenar, ator muito cotado para ser o próximo Batman do universo DC), sobrinho dos personagens de Mirren e Ford, que remoendo traumas de sua participação na 1º Guerra, se tornou um caçador de animais ferozes na África. Seu enlace romântico com a mimada Alexandra (Julia Schlaepfer), ainda que um pouco melodramático e com uma representação crítica do colonialismo pouco eficaz, apresenta paisagens belíssimas e algumas cenas tensas que lembram o clássico filme “A Sombra e a Escuridão” (1996).

Já no 3º núcleo, acompanhamos a história de Teonna Rainwater (Aminah Nieves), nativa-americana que sofre muito com a segregação e submissão dos nativos após a conquista do oeste americano pelos colonos. Ainda que tenha algumas boas ideias e comentários históricos, num certo revisionismo que Sheridan tem feito da cultura nativo-americana no audiovisual de faroestes, a história acaba seguindo um ciclo interminável de violência e sadismo sem muita substância dramática, o que torna este o núcleo menos atrativo desta primeira temporada.

O roteiro simples e bem desenvolvido de Sheridan continua recheado de diálogos afiados e com as habituais reviravoltas dramáticas, todas bem construídas, e o final da temporada deixa claro que todos os núcleos serão interligados na vindoura 2ª temporada, com estreia marcada para 23 de fevereiro deste ano.

Com aprovação de 90% dos críticos no Rotten Tomatoes e com nota 8.3 no IMDB, a 1ª temporada se encontra disponível no catálogo da Paramount+.

Operação: Lioness, a produção mais grandiosa de Sheridan

Com todo o sucesso ininterrupto de suas criações, aparentemente Sheridan não encontrou dificuldades em atrair novas estrelas do 1º escalão de Hollywood, como Nicole Kidman, Morgan Freeman e Zoe Saldaña. Em julho de 2023, estreou Operação: Lioness (Lioness), com roteiro, produção e até uma participação especial de Taylor Sheridan. A série acompanha Joe (Zoe Saldaña), que tenta equilibrar sua vida pessoal e profissional enquanto age na guerra contra o terrorismo. O programa Lioness, supervisionado por Kaitlyn Meade (Nicole Kidman) e Donald Westfield (Michael Kelly), em sua 1ª temporada recruta Cruz (Laysla De Oliveira, canadense filha de brasileiros), uma militar agressiva da Marinha estadunidense, para uma missão secreta: se infiltrar na família de um perigoso terrorista para assassiná-lo, colocando fim a um novo atentado nos Estados Unidos.

Se a 1ª temporada foi um grande sucesso, o retorno do segundo ano teve o maior número de visualizações de uma estreia de série protagonizada por mulheres na história do Paramount+, com ao menos 3 milhões de espectadores assistindo ao 1º episódio. No ranking total, o seriado já teve a 4ª maior estreia do canal de streaming.

Já com uma 3ª temporada confirmada, a história tensa, bem escrita e intrigante evoca a tensão do primeiro sucesso cinematográfico roteirizado por Sheridan, Sicário: Terra de Ninguém (2015), e vale muito a pena ser assistido por quem gosta de tramas de guerra, intrigas políticas e muita ação.

Com aprovação de 80% do público no Rotten Tomatoes e com nota 8,3 no IMDB, as 2 temporadas da série estão disponíveis na íntegra no catálogo da Paramount+.

Homem da Lei: Bass Reeves, uma biografia tocante e primorosa

Ainda no ano de 2023, a Paramount lançou, em novembro, uma minissérie sobre o lendário policial Bass Reeves, um dos maiores heróis da fronteira e um dos primeiros delegados negros dos EUA a oeste do rio Mississippi na história americana, que chegou a prender mais de 3000 foras da lei no decorrer de sua carreira. Desta vez, Sheridan somente produziu a trama de 8 episódios de Homem da Lei: Bass Reeves (Lawmen: Bass Reeves), roteirizada por Chad Feehan e dirigida por Christina Voros e Damian Marcano.

Na trama, após se envolver numa disputa pessoal com seu ex-proprietário, o ex-escravizado Bass (David Oyelowo, da série Silo e do filme Selma: uma Luta pela Igualdade) foge de sua plantação no território do Arkansas em 1875. Estabelecendo uma nova vida nas redondezas e com o apoio de sua esposa, Jennie Reeves (Lauren E. Banks), Bass assume o sobrenome de seu antigo mestre e sustenta sua família como pequeno fazendeiro. Anos mais tarde, os tempos mudam quando as habilidades com armas de Bass são descobertas pelo Xerife Sherrill Lynn (Dennis Quaid), fazendo com que ele ingresse no serviço da lei no Velho Oeste americano. Como um homem da lei, Reeves passa a lidar com o preconceito, a criminalidade e as contradições sociais da justiça do Meio Oeste do século XIX.

O protagonista, interpretado com grande credibilidade e muita sensibilidade por David Oyelowo, passa por uma transformação muito interessante, que aborda temas de grande profundidade, como preconceitos raciais contra afro-americanos e indígenas e sobre o conceito de justiça. Tudo isso é contado através de uma narrativa clássica e ágil, sempre permeada por ótimos coadjuvantes e que, em linhas gerais, representa uma ótima opção recente do gênero faroeste. Ainda que seus primeiros episódios não tenham a genialidade do roteiro de Sheridan o desenvolvimento da trama apresenta um dos melhores vilôes das sérias atuais, Esau Pierce, interpretado com maestria por Barry Pepper. As cenas de violência e tensão, em especial no último episódio, também chamam a atenção para esta obra que vale a pena ser assistida.

Há rumores, inclusive, de que a intenção de Taylor Sheridan e da Paramount é retratar outras grandes biografias de figuras históricas do velho Oeste, como Billy the Kid, Jesse James e Wyat Earp. Caso a ideia se consolide, será incrível acompanhar estas biografias sob o ponto de vista revisionista de Sheridan.

Com aprovação de 93% do público no Rotten Tomatoes e com nota 7.4 no IMDB, a minissérie pode ser encontrada no catálogo da Paramount+.

Landman, o faroeste moderno dos campos de petróleo do Texas

Desta vez explorando o universo da extração do petróleo, em um cenário pouco retratado nas telas, em novembro de 2024 estreou com enorme sucesso a série Landman. Cocriada por Sheridan e Christian Wallace e com roteiros e direção de Sheridan, Landman é um drama levemente baseado no podcast Boomtown. A trama tem como fio condutor Tommy Norris (Billy Bob Thorton), uma espécie de “gerente” de uma poderosa petroleira que negocia e gerencia o arrendamento de terrenos no estado do Texas para extração de petróleo. Norris é o homem de confiança de Monty Miller (Jon Hamm, de Mad Men), o dono da operação, casado com Cami Miller (Demi Moore, do recentemente aclamado filme A Substância).

É difícil resumir as tarefas do protagonista em poucas linhas de texto. Ele é capataz, gerente, articulador e pau para toda obra. Resolve todos os problemas, dos mais estratégicos aos mais corriqueiros, conhece cada trabalhador pelo nome e é também quem lida com as autoridades. No cenário desértico, poeirento e marcado por sua própria estética brutal do Texas, o personagem de Billy Bob Thorton torna a série irresistível logo em seu primeiro episódio. Com esbasbacantes monólogos afiados e recheados de sarcasmo, o ranzinza e muito inteligente “homem das terras” carrega a série nas costas, mas conta com tramas paralelas instigantes, que vão desde sua relação nada convencional com sua família, composta pela ex-esposa Angela (Ali Carter) e pelos filhos Cooper (Jacob Lofland) e Ainsley (Michelle Randolph), aos embates com uma gangue de narcotráfico e com a advogada Rebecca Falcone (Kayla Wallace).

A série estreou como o maior sucesso global do Paramount+ desde 1923. Ao todo, o episódio piloto acumulou cerca de 5,2 milhões de espectadores nos Estados Unidos apenas no dia de lançamento. Quando se leva em consideração os três primeiros dias de visualização, a série se tornou a melhor estreia doméstica de todos os tempos para o serviço de streaming, segundo a Paramount. Ainda que não tenha sido oficialmente renovada, tudo leva a crer que teremos uma 2ª temporada.

Landman conta com uma aprovação de 77% dos críticos no Rotten Tomatoes e com nota 8.3 no IMDB, e está disponível no catálogo da Paramount+.

Próximos projetos do autor

Com o absoluto sucesso das obras de Sheridan, não é surpresa para ninguém que tanto projetos ligados ao universo expandido dos Duttons quanto novas ideias do autor saiam do papel. Além das novas temporadas de Mayor of Kingtown, Tulsa King, Operação: Lioness e 1923, a Paramount+ já está com alguns novos projetos em desenvolvimento e até em pré-produção.

Um projeto já confirmado, e em produção, é a série The Madison. Na trama, acompanharemos uma família nova-iorquina que, após uma tragédia, vive o luto durante suas férias na zona rural de Montana, mesmo ambiente da série Yellowstone. Tendo como principal estrela Michelle Pfeiffer como a protagonista Stacy Clyburn, além de Patrick J. Adams, de Suits, como o personagem Russell McIntosh, e Matthew Fox, o eterno Dr. Jack Shephard de Lost, fazendo uma participação especial, a série tem estreia prevista para este ano.

Já em processo de desenvolvimento, a série 6666 (Four Sixes) deve acompanhar uma trama no histórico e famoso Rancho 6666, localizado no Texas, e que tem atualmente Sheridan como um de seus proprietários. Ao que tudo indica, a trama deve desenvolver a história do personagem Jimmy (Jimmy Hurdstrom), que no decorrer da série Yellowstone é transferido para o Texas e no famoso rancho se apaixona e recomeça a vida como adestrador de cavalos. Como protagonista, especula-se que tenhamos um outro grande ator, e o sempre excelente Matthew McConaughey (True Detective e Interestelar) já chegou a ser cogitado para o papel, mas ainda sem confirmação.

Ainda há especulações sobre outras duas séries ambientadas no universo de Yellowstone. Ainda em desenvolvimento e sem definição dos astros que a estrelarão, a série 1944 provavelmente apresentará a 3ª e a 4ª gerações da família Dutton durante a Segunda Guerra Mundial, sendo possível que os personagens sobreviventes de 1923 apareçam mais idosos. E com o fim de Yellowstone, especula-se também o desenvolvimento de um novo spin-off centrado nos personagens Beth e Rip, que acompanharia a vida do casal interpretado por Kelly Reilly e Cole Hauser após os acontecimentos da última temporada da série original.

Com uma fonte inesgotável de boas ideias e uma produtividade sem igual, Taylor Sheridan provavelmente terá muitos outras outras obras nestes próximos anos. Com Hollywood cada vez mais carente de bons projetos, é sempre um alento acompanhar o estrondoso sucesso de cada uma das incríveis incursões do autor pelo universo dos streamings e dos cinemas.

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