
Por mais que eu me encaixe na categoria de cinéfilo inveterado, aficionado por filmes e séries e com direito a frases clichês como “o roteiro deste filme é composto por 3 atos que se complementam num final apoteótico”, no fundo do meu coração há um lugar especial reservado para um clássico… Mortal Kombat (o de 1995, aquele mesmo, uma “tosqueira” muito divertida com uma trilha sonora inesquecível). E não estou sozinho nessa. Se você já se pegou cantarolando a música “A Thousand Miles” depois de rever As Branquelas, bem-vindo: você tem um Guilty Pleasure.
O QUE SÃO GUILTY PLEASURES, AFINAL?
O termo surgiu na língua inglesa e pode ser traduzido literalmente como “prazer com culpa”. Em síntese trata-se de algo que a gente gosta muito mas que sente uma leve vergonha de admitir. Tipo ficar ouvir aquela música brega no último volume no carro e, quando para no semáforo abaixar o som discretamente. A origem do termo remonta a expressões culturais dos anos 80 e 90, quando gostar de algo “brega” era motivo de chacota entre os mais cult.
Divulgação: Universal Studios
No meu caso, boa parte desses “prazeres com culpa” vem da gloriosa época da Sessão da Tarde (Globo) e do Cinema em Casa (SBT). Sabe aqueles filmes que passavam depois da escola, com dublagens memoráveis e tramas que hoje desafiam qualquer lógica? Pois é, aquilo moldou meu gosto cinematográfico — para o bem e para o caos.
FILMES QUE MARCARAM (MESMO QUE A GENTE NÃO ADMITA)
Como esquecer de K9 – Um Policial Bom Pra Cachorro (K9, 1989), onde um policial forma uma dupla improvável com um pastor alemão com mais carisma que muito ator por aí? Ou de Highlander – O Guerreiro Imortal (Highlander, 1986), que nos apresentou uma trama fictícia sensacional, de luta com espadas e guerreiros imortais, mas que assistindo hoje só se salvam a trilha sonora incrível do Queens e a atuação do saudoso Sean Connery?
Highlander – O Guerreiro Imortal – Divulgação: Lionsgate
E temos ainda os campeões do absurdo tipo O Pestinha (Problem Child, 1990), aquele garoto de bermuda que aterrorizava adultos, ou Meu Primeiro Amor (My Girl, 1991), que traumatizou 9 entre 10 crianças com… bem, você sabe o final (Spoiler).
Cinema em Casa por sua vez era tipo um parque de diversões da tralha audiovisual: A Lagoa Azul, Comando para Matar, Karatê Kid (todas as versões), Christine, O Carro Assassino, Pague para entrar e Reze para sair, O Ataque dos Vermes Malditos… Filmes que, se fossem lançados hoje, talvez não ganhassem mais que meia estrela no Rotten Tomatoes — mas que a gente assistia e reassistia com a empolgação de quem estava assistindo a obras-primas da sétima arte.
MAS POR QUE GOSTAMOS DISSO?
Porque é confortável, porque é divertido. Porque em tempos de mil abas abertas no navegador e notificações piscando a cada segundo, às vezes tudo o que a gente precisa é assistir a uma imitação de Tarzan balançando de forma hilária nas telas (George, O Rei da Floresta, lembra?). São filmes que talvez não sejam tecnicamente bons, mas que são emocionalmente perfeitos.
E cá entre nós: sentir culpa por isso é coisa do passado. O guilty pleasure agora é só pleasure mesmo. A gente já entendeu que nem tudo precisa ter arte elevada — às vezes só precisa ter um cachorro que joga basquete ou uma criança prodígio que faz várias armadilhas para uma dupla de ladrões. Todo filme ruim é um filme bom para alguém!
Da próxima vez que alguém torcer o nariz porque você disse que ama Esqueceram de Mim 2, diga com orgulho: “Sim, eu gosto. E ver o Marv levando uma tijolada na cabeça me traz paz.”
🎬 MEU TOP 5 GUILTY PLEASURES
AS BRANQUELAS (White Chicks, 2004)
IMDB: 5,8
Sinopse
Dois agentes do FBI desonrados (interpretados por Marlon Wayans e Shawn Wayans) se disfarçam em um esforço para proteger duas herdeiras de um plano de sequestro.
Porque é ruim?
Já tentou assistir ao filme legendado? A dublagem deste filme fez toda a diferença! Atuações ruins e muita suspensão de descrença num roteiro bem basicão.
Porque é maravilhoso?
É um clássico instantâneo. Humor pastelão, músicas icônicas, frases eternas (mérito mais uma vez da dublagem), e nosso eterno Latrell do grande Terry Crews.
Citação inesquecível
“Sua mãe é tão velha que sai leite em pó das tetas dela!”
O PESTINHA (Problem Child, 1990)
IMDB: 5,5
Sinopse
Uma criança é pouco mais do que um monstro. Junior (Michael Oliver) é adotado por um homem amoroso (John Ritter) e sua esposa louca (Amy Yasbeck). Os risos continuam chegando enquanto o menino leva seus pais ao limite.
Por que é ruim?
Trata-se de mais um filme com crianças que veio na esteira de sucessos como Querida, Encolhi as Crianças (Honey, I Shrunk the Kids, 1989) e Esqueceram de Mim (Home Alone, 1990), mas com atuações muito mais canastronas, com roteiro apelativo e algumas piadas sem graça.
Por que é maravilhoso?
Um filme que transformou o caos infantil em entretenimento nacional.
Citação inesquecível
“Ele parece um anjo… mas é o capeta em forma de guri.”
MORTAL KOMBAT (1995)
IMDB: 5,8
Sinopse
Três artistas marciais desconhecidos são convocados para uma ilha misteriosa para competir em um torneio cujo resultado decidirá o destino do mundo. Baseado no famoso jogo de arcade.
Por que é ruim?
Sejamos realistas. Apesar da nostalgia, o filme tem atuações terríveis, lutas até engraçadas de tão fraquinhas, efeitos especiais datados e uma história bem basicona.
Por que é maravilhoso?
A trilha sonora vem à mente só de pensar no filme (e no jogo), o Goro animatrônico ainda é melhor do que muito personagem em CGI dos dias de hoje e as vestimentas lembravam realmente o jogo famoso.
Citação inesquecível
“Get Over Here!“
SPACE JAM – O JOGO DO SÉCULO (Space Jam, 1996)
IMDB: 6,5
Sinopse
Alienígenas querem que Pernalonga e sua turma tornem-se a principal atração de um parque de diversões. Prestes a ser capturado, Pernalonga propõe um jogo de basquete em troca de sua liberdade. E, para enfrentar o temível time alienígena, o coelho convoca um importante reforço, uma conhecida estrela do basquete americano, a lenda Michael Jordan.
Por que é ruim?
O protagonista Michael Jordan, como ator na época, era um sensacional jogador de basquete. E o roteiro basicão, as tramas infantis e a história cheia de conveniências estão longe de um primor da comédia do cinema.
Por que é maravilhoso?
Michael Jordan + Pernalonga + Aliens. Isso é cinema!
Citação inesquecível
“Vamos jogar basquete, Looney Tunes!”
RUAS DE FOGO (Streets of Fire, 1984)
IMDB: 6,7
Sinopse
A cantora de rock Ellen Aim (Diane Lane) retorna à sua cidade para um show e é sequestrada pelos Bombers, uma gangue de motoqueiros liderada por Raven Shaddock (Willem Dafoe). Reva Cody (Deborah Van Valkenburgh) envia um telegrama a seu irmão Tom Cody (Michael Paré), ex-namorado de Ellen, pedindo que ele volte à cidade. Juntamente com o produtor e atual namorado de Ellen, Billy Fish (Rick Moranis) e com a ex-soldado McCoy (Amy Madigan), Tom enfrenta a violência das gangues para resgatá-la das mãos dos Bombers.
Por que é ruim?
Apesar de se tratar de um filme cult, o roteiro é bem básico, o herói e protagonista é muito canastrão (Michael Paré), a história é brega ao extremo, e seu lançamento hoje iria para um dos catálogos B de filmecos de canais de streaming.
Por que é maravilhoso?
Trata-se de uma Fábula do Rock n’ roll dos anos 80, com uma trilha sonora impecável, inúmeras referências a filmes dos anos 50 e 60, com uma jornada do herói satisfatória e com o brilhantismo de Willem Dafoe e Rick Moranis em início de carreira.
Citação inesquecível
“Você sabe que em todo lugar que eu vou sempre tem um babaca.“