
Eu tinha somente um ano e meio de idade quando um dos filmes mais importantes da história do cinema (e um dos mais importantes para solidificar minha paixão pela 7ª arte) estreou nos cinemas norte-americanos. Em 25 de maio de 1977, uma galáxia muito, muito distante era apresentada ao mundo nos cinemas com a estreia de Star Wars: Uma Nova Esperança.
Na época e no decorrer de toda a década de 80 aqui no Brasil, o título do filme era Guerra nas Estrelas, e foi com este título que tive acesso ao incrível universo onde o Império e a Aliança Rebelde estavam em guerra constante, com naves gigantescas, batalhas no espaço e sabres de luz. Com meus 7 anos de idade, eu estudava à tarde no Banesão, escola estadual do bairro Bela Vista, em Ipatinga, e fazia judô na Usipa pela manhã, e o impacto de assistir pela primeira vez na TV o primeiro filme da saga foi tão grande que nunca me esqueci da noite em claro que passei após a exibição, numa sessão especial da Supercine num domingo à noite, depois do Fantástico da rede Globo. Não havia internet para buscar mais informações sobre aquele universo, o que me deixado ainda mais impressionado e ávido por conhecer mais daquele universo.
Ainda que eu já fosse fascinado por filmes, séries e todo o universo pop de HQs e de livros desde minha tenra infância, nada me impactou tanto quanto Star Wars e seu universo repleto de raças alienígenas, de tecnologias surradas e futuristas (a Millennium Falcon de Han Solo sempre sucateada), e de planetas fantásticos numa guerra que nunca tinha fim. Desde garotinho, no finalzinho dos anos 70 e início dos anos 80, já era fã de Os Trapalhões, dos filmes de Jerry Lewis, de séries como Zorro, Perdidos no Espaço, Jornada nas Estrelas (Star Trek) e Jeannie é um Gênio, além de desenhos animados com He-Man, Os Herculóides, Scooby-Doo e vários outros, mas nada, naquela época, tinha me preparado para Star Wars.
É óbvio que algumas referências daquele universo já eram conhecidas, como o filme Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978), claramente inspirado em Star Wars. E isso sem contar os bonequinhos (action-figures) que já pipocavam em todas as lojas de brinquedos desde 1978. Ainda assim, as crianças da época só tinham mesmo acesso aos filmes quando estreavam nos cinemas ou na televisão.
Coleção Star Wars – Imagem: b9.com.br
O IMPACTO NA TV BRASILEIRA
Foi somente nos anos 1980, com o crescimento da televisão aberta, que Star Wars realmente entrou em nossas casas. A estreia na emissora aconteceu em 1982, em um domingo de Supercine. Era, então, meu primeiro contato com Luke Skywalker, Leia Organa e Han Solo.
O segundo filme da saga foi O Império Contra-Ataca, transmitido pela primeira vez na TV Globo em 1985, seguido por O Retorno de Jedi em 1988. Eu, ainda criança, ficava vidrado diante da televisão, fascinado pelas batalhas espaciais, pelos sabres de luz e pelo misterioso Darth Vader.
Reprisados inúmeras vezes na televisão aberta, os 2 primeiros filmes da saga tiveram ainda suas histórias aprofundadas por vários livros e histórias em quadrinhos que eu consumia empolgadíssimo. E só em outubro de 1983 eu tive o privilégio de assistir ao 3º filme da saga, O Retorno de Jedi, nos cinemas.
MINHA HISTÓRIA COM STAR WARS
Não somente minha paixão por cinema mas muito da minha personalidade foi forjada pela grandiosa saga da Família Skywalker em todos estes quase 50 anos de filmes, séries, livros, games e HQs. Parte do líder que me tornei tem um pouco da sabedoria de Obi-Wan Kenobi e do Mestre Yoda, da coragem de Luke Skywalker, da impetuosidade de Han Solo e da articulação estratégica de Leia Organa.
Ao lado meu filho Rafael, hoje com 20 anos, tive o privilégio de assistir sua reação à revelação da paternidade de Luke, e o mesmo farei com meu filho Henrique, atualmente com 6 meses, daqui a alguns anos, perpetuando a magia inspiradora da odisseia espacial criada por George Lucas.
Star Wars – Divulgação: Disney
Dito tudo isso, é impressionante como alguns não conhecem ou nunca se aventuraram a conhecer este rico universo. Talvez por ficarem desanimados pela quantidade de material, ou por terem desistido após serem apresentados a este universo com algumas obras de qualidade duvidosa lançadas nos últimos anos.
Para celebrar uma das mais incríveis sagas cinematográficas, portanto, listo abaixo a melhor forma de ser introduzido à saga com todas as obras canônicas (em filmes e séries) lançados até o momento. Aproveito também para deixar minhas breves impressões sobre cada uma delas.
SUGESTÃO DE SEQUÊNCIA PARA INICIAR NO UNIVERSO DE STAR WARS
A ordem abaixo, ainda que não seja a ordem cronológica, é a que considero ideal para iniciação neste universo criado há quase 5 décadas:
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (Star Wars: Episode IV – A New Hope, 1977)
O começo de tudo. Assisti anos depois, mas senti a magia como se estivesse em 1977. Trata-se de um filme completo, com início, meio e fim, e diante da incerteza do sucesso deste universo, George Lucas decidiu estrear com o 4º filme de uma saga de 9 longas que narram a trajetória da família Skywalker envolvida num conflito intergaláctico. Ainda que os efeitos especiais e as cenas de ação sejam bem datadas, toda a história incrível e todos os conceitos criados neste primeiro filme compensam. E isso sem contar a trilha sonora majestosa de John Williams, que conquistou uma das 6 estatuetas do Oscar de 1978. Somos apresentados a todos os grandes personagens, tanto o jovem herói Luke Skywalker quanto a um dos maiores vilões da história do cinema, Darth Vader.
Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (Star Wars: Episode V – The Empire Strikes Back, 1980)
Para muitos, como no meu caso, é simplesmente o melhor filme de toda a saga. O momento “Eu sou seu pai” entrou para a história do cinema. Com uma trama muito bem amarrada e com a primeira aparição do Mestre Yoda, tem um roteiro bem mais adulto e pesado, e sua trama serve até nos dias de hoje como referência de continuações de sucesso e de histórias concisas e de final apoteótico. Reassisti neste ano e o longa continua apoteótico até nos dias atuais. Uma curiosidade interessante: o ator Mark Hammil sofreu um acidente dias antes das filmagens e ficou com uma cicatriz no rosto. Logo no início do longa, seu personagem, Luke Skywalker, sofre um ataque no planeta gelado de Hoth que justifica seu rosto marcado.
Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (Star Wars: Episode VI – Return of the Jedi, 1983)
Um final épico para a trilogia original — e o começo de uma vida inteira de fascínio, com inúmeras obras em outras mídias, como livros e HQs, criadas para dar continuidade às aventuras de Luke, Leia e Han Solo. Ainda que seja o mais infantil dos filmes da trilogia clássica, com a adição dos Ewoks dentre outras situações atrativas para crianças, este longa conseguiu encerrar com chave de ouro a história até então criada.
Star Wars: A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode I – The Phantom Menace, 1999)
Já adulto, acompanhei no cinema com entusiasmo renovado. Este filme, especificamente, ainda que tenha decepcionado quanto à atuação do pequeno Anakin Skywalker e à tentativa de explicar a “Força”, com um papo estranho sobre midi-chlorians, sem contar a adição de um dos personagens mais ridículos de toda a saga, o malfadado Jar Jar Binks, este longa nos apresentou excelentes personagens como o jovem Obi Wan Kenobi (aqui interpretado por Ewan McGregor), o mestre Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson), efeitos especiais incríveis, impossíveis nas décadas de 70 e 80, e uma das lutas mais impressionantes da saga, dos Jedis acima citados com o sith Darth Maul (Ray Park), pupilo do então Senador e futuro Imperador Palpatine (Ian McDiarmid).
Star Wars: O ataque dos Clones (Star Wars: Episode II – Attack of the Clones, 2002)
Ainda que o forte do roteiro de Lucas não seja o desenvolvimento de personagens, nesta saga contemplamos o início da queda da República e a ascenção do Império, além de ótimos duelos e com introdução de bons personagens, como o Mestre Jedi Mace Windu (Samuel L. Jackson e seu sabre lilás) e o ex-Jedi Conde Dooku (Christopher Lee). Outro ponto fraco é o romance insosso entre Anakin (Hayden Christensen) e Padmé Amidala (Natalie Portman), mas que ainda assim serviu de base para a ascenção do grande vilão de toda a saga.
Star Wars: A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith, 2009)
Para muitos considerado o melhor filme da saga, este filme marca a derrocada total da República e a grande origem de Darth Vader, com a impactante ascensão do Império marcada pela execução da Ordem 66. Trata-se de um longa com lutas impactantes, algumas atuações memoráveis (em especial de Ewan McGregor) e com uma das histórias mais tristes da saga. Imperdível!
Star Wars: A Guerra dos Clones (Star Wars: The Clone Wars, de 2008 a 2020)
Após o longa de animação de 2008, foi iniciada a série de 7 temporadas, com um total de 133 episódios, que narrou o que aconteceu entre Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones (2002) e Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith (2009), expandindo de forma incrível o universo da saga. Somos apresentados a outros ótimos personagens, como a padawan Ahsoka Tano, e acompanhamos o auge e o início do declínio moral de Anakin Skywalker. O criador e diretor Dave Filoni conseguiu captar de forma incrível o espírito da saga e viria a repetir este feito alguns anos depois.
Rogue One: Uma História Star Wars (Rogue One: A Star Wars Story, 2016)
Situado entre os episódios 3 e 4 da saga, ainda que não abarque personagens da Família Skywalker, é um dos melhores filmes da saga, apresentando personagens incríveis e mostrando todo o sacrifício exigido para desvendarem o ponto fraco da assustadora Estrela da Morte. É um longa adulto, com história fechada, e que tem um dos finais mais impressionantes e nostálgicos de todos os tempos. Dirigido brilhantemente por Gareth Edwards (Godzilla, de 2014) e estrelado por Felicity Jones, Diego Luna e grande elenco, para muitos é considerado o melhor longa de toda a saga, mesmo sem ter um Jedi sequer. Dentre os longas, é o meu 4º predileto.
Star Wars Rebels (2014-2018)
É uma animação situada 14 anos depois de Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith (2009) e cinco anos antes de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977), em que o Império Galático quer dominar a galáxia e caçar os últimos cavaleiros Jedi mostrando o crescimento da Aliança. Mais uma ótima adição ao cânone da saga pelo brilhante Dave Filoni.
Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens, 2015)
Após um hiato de 6 longos anos nos cinemas, a Disney adquiriu os direitos de Star Wars e sob o comando de Kathleen Kennedy, é dado um reinício à saga. Com uma história que remete a vários anos após Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983), somos apresentados a uma nova protagonista, Rey (Daisy Ridley), que nos guia pelo universo já conhecido mas com uma crescente ascensão do mal. Pela nostalgia e pelo roteiro bem amarrado, com uma história e estrutura bem similares ao primeiro filme da saga (Uma Nova Esperança, de 1977), somos fisgados novamente ao som da trilha fantástica de John Williams permeada pelos sons dos sabres de luz. O final arrebatador perpetrado pelo diretor J. J. Abrams (Lost), que encerra a trajetória de um dos grandes protagonistas da trilogia clássica quanto nos apresenta a outros, acaba agradando a muitos fãs mas também deixando vários desiludidos. Reassistindo recentemente, não gostei tanto quanto no frescor de seu lançamento, mas dentre as novas sequências da Disney é o melhor (com exceção, claro, de Rogue One).
Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi (Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi, 2017)
Este longa que dá continuidade ao filme anterior, desta vez dirigido por Rian Johnson (Entre Facas e Segredos, de 2019), é bem divisivo. Para muitos, foi um divisor de águas, com várias quebras de expectativa e de paradigmas. Para outros, como no meu caso, foi extremamente frustrante ver o que fizeram com Luke Skywalker e com o rumo de outros personagens introduzidos na história.
Star Wars: Episódio IX – A Ascenção Skywalker (s Últimos Jedi Star Wars: Episode IX – The Rise of Skywalker, 2019)
O triste e medonho encerramento desta última trilogia, que consegue o feito de melhorar toda a trilogia prequela de George Lucas. Na minha visão, um total desrespeito ao universo construído, com soluções pífias, com um roteiro covarde e com despedidas desastrosas de vários personagens. Sob direção de J. J. Abrams, que parece ter buscado desconstruir tudo que foi feito no longa anterior, o resultado só conseguiu piorar tudo em todos os aspectos. Uma pena.
The Mandalorian (2019- )
Série live-action que nos apresenta o que aconteceu entre Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983) e Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força (2015). O protagonista Mandaloriano interpretado por Pedro Pascal é cativante, e os conceitos criados por Jon Favreau (Homem de Ferro) são um alento para quem buscava mais deste universo. Nas 2 primeiras temporadas, fomos apresentados ao pequeno Grogu e ficamos completamente impactados pela aparição de grandes personagens dos filmes. O final da 2ª temporada é de tirar o fôlego para quem é apaixonado pela trilogia clássica. Ainda que a 3ª temporada tenha se perdido bastante, tenho fé de que um novo filme com o Mandaloriano e o pequeno Grogu consiga recuperar o carisma do início da série.
Ahsoka (2023- )
Série live-action interessante, centrada na personagem Ahsoka Tano (Rosadio Dawson), que surgiu na animação The Clone Wars (2008-2020) e que nos foi apresentada, em sua versão live-action em The Mandalorian (2019-). Com uma história mediana, temos aqui a primeira versão live-action de outros personagens icônicos, como Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead), da série animada Star Wars Rebels (2014-2018), e do Grande Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen), saído diretamente série de livros não mais canônicos A Trilogia Thrawn (1991-1993). Nos apresenta também pelo menos um novo vilão muito memorável, o ex-Jedi Baylan Skoll, vivido pelo saudoso Ray Stevenson. Dave Filoni, mais uma vez, faz um bom trabalho, ainda que não figure dentre suas melhores obras.
Andor (2022-2025)
Esta série de 2 temporadas (ainda em andamento com previsão de encerramento neste semestre) nos apresenta o personagem Cassian Andor (Diego Luna), um dos protagonistas do filmaço Rogue One: uma História Star Wars (2016) nos momentos que precedem a história deste filme. É simplesmente a melhor série live-action do universo de Star Wars, comparável somente com as 2 primeiras temporadas de The Mandalorian. Mostra um lado mais político e repleto de intrigas e espionagem, mas sempre com grandes referências e sob a ótima direção de Tony Gilroy (O Abutre, 2014), que também foi um dos roteiristas de Rogue One.
ASSISTA POR SUA CONTA E RISCO
Os títulos abaixo, ainda que canônicos, nem de longe conseguiram agradar aos fãs de Star Wars. Apesar de alguns pouquíssimos méritos, realmente não fazem falta a quem quiser entender toda a saga.
O Livro de Bobba Fett (The Book of Boba Fett, 2021)
Também ambientada no mesmo período temporal de The Mandalorian, a séríe tenta nos explicar o que aconteceu ao personagem Bobba Fett (Temuera Morrison) após sua “aparente morte” em O Retorno de Jedi (1983). Vale pela curiosidade e pela personagem Fennec Shand (Ming-Na Wen), mas mesmo com a direção do incrível Jon Favreau é uma das piores séries canônicas da saga.
Obi-Wan Kenobi (2022)
Nesta série, conseguiram o feito de trazer Ewan McGregor e Hayden Christensen, numa história que precede o primeiro longa da saga (Uma Nova Esperança, 1977) e estragaram toda a história. Ainda que com uma ou outra cena memoráveis, como o último duelo (da série) entre Kenobi e Darth Vader, toda a história é sofrível.
Han Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story, 2018)
Mais um longa totalmente desnecessário, que nos apresenta Han Solo (Alden Ehrenreich) em seus primórdios. Infelizmente, nada se salva neste filme, que também acabou esquecido nas histórias seguintes.
The Acolyte (2024)
Situada muitos anos antes de A Ameaça Fantasma (1999), esta série consegue desconstruir tudo que George Lucas criou, e nada, nada mesmo, consegue se salvar. Seu fracasso foi tão retumbante que a própria Disney tenta escondê-la em seu catálogo. Inassistível!
QUE A FORÇA CONTINUE
Star Wars – Divulgação: Disney
O que torna Star Wars tão especial para seus fãs de longa data é que, mais do que filmes e séries, ele se tornou uma linha do tempo pessoal para muitos. Quando eu assisti pela primeira vez a O Retorno de Jedi em 1983 nos cinemas, por exemplo, eu era uma criança sonhadora. Quando assisti a A Vingança dos Sith em 2005, já era um adulto que refletia sobre perdas e escolhas. E quando ouvi pela primeira vez a trilha de The Mandalorian (2019), me lembrei daquele menino no sofá, com olhos brilhando, sem saber que a Força já fazia parte da minha vida.
Hoje, a saga continua viva. Não apenas nas telas, mas na cultura, nos diálogos entre gerações, nas memórias. Star Wars me acompanhou por décadas — e cada vez que ouço o tema de abertura, é como reencontrar um velho amigo.
Que a Força continue comigo. E com todos nós.