
Imagine estar em um ambiente com música alta, luzes piscando, muitas conversas ao redor e cheiros intensos no ar. Para a maioria, essa combinação pode ser apenas desconfortável. Para algumas pessoas, no entanto, ela é insuportável. Estamos falando da “sobrecarga sensorial” : uma experiência real, intensa e muitas vezes invisível aos olhos de quem observa. Atire a primeira pedra, quem nunca precisou de um tempinho em silêncio para organizar seus pensamentos. Para algumas pessoas, esse tempo é muito importante para evitar sobrecargas sensoriais e até emocionais.
A sobrecarga sensorial acontece quando o cérebro recebe mais estímulos do que consegue processar. Sons, luzes, texturas, cheiros, movimentos — tudo chega ao mesmo tempo, sem filtro, sem pausa. O resultado pode ser ansiedade, irritação, desorganização emocional, ou mesmo crises intensas que muitas vezes são interpretadas de forma errada por quem não entende o que está acontecendo.
Esse fenômeno é comum em pessoas neurodivergentes, especialmente em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH ou condições relacionadas à ansiedade. Crianças e adultos que vivem essa realidade muitas vezes enfrentam não só a sobrecarga em si, mas também a falta de compreensão do outro.. olhares de julgamento, rotulagens equivocadas e ambientes que não oferecem nenhum tipo de suporte ou acolhimento.
Em nosso meio, ainda pouco se fala sobre o impacto de ambientes sensorialmente hostis. Escolas, por exemplo, podem ser espaços de aprendizado ou de sofrimento, dependendo da sensibilidade de cada aluno e da preparação dos profissionais para lidar com essas questões. Um corredor barulhento, o som estridente do sinal, o toque constante, apresentações com palmas, som alto, a luz fluorescente, tudo isso pode se tornar um gatilho.
Nesse sentido, algumas mudanças simples podem fazer grande diferença. Substituir o barulho da campainha, por exemplo, por uma música clássica suave ou outro som mais agradável pode reduzir drasticamente o estresse sensorial de muitos estudantes. Ajustes assim não apenas acolhem melhor os alunos com hipersensibilidade, como também tornam o ambiente mais agradável para todos.
Mas é possível ir além. Oferecer espaços tranquilos, permitir pausas, usar fones abafadores, adaptar a iluminação — todas essas são estratégias inclusivas e viáveis. Mais que isso, é preciso escutar. Ouvir o que o outro sente, mesmo que não seja visível. Respeitar os limites, mesmo que pareçam “incomuns”.
Falar sobre sobrecarga sensorial é um convite à empatia. É lembrar que a inclusão verdadeira não se faz apenas com rampas ou discursos prontos, mas com sensibilidade para perceber o que o outro precisa – mesmo que não consiga dizer. Quando compreendemos que nem todos experimentam o mundo da mesma forma, abrimos espaço para uma convivência mais justa, mais humana. A inclusão começa na escuta — até dos sons que só o outro consegue ouvir.