
Sobrecargas emocionais e sensoriais podem desencadear reações intensas em pessoas neurodivergentes. Compreender essas respostas é essencial para promover respeito e inclusão verdadeira.
No texto da coluna da semana passada, falamos um pouco sobre a temática da sobrecarga sensorial. Hoje, vamos retomar essa pauta, aprofundando a explicação sobre dois fenômenos diretamente ligados a esse contexto: o meltdown e o shutdown.
No universo da neurodivergência, dois fenômenos merecem atenção especial: o meltdown e o shutdown. Embora muitas vezes confundidos, eles são reações distintas a situações de sobrecarga emocional, sensorial, cognitiva ou até sociais… e compreender suas diferenças é essencial para promover inclusão e respeito.
O meltdown pode ser descrito como uma explosão emocional. Diante de um acúmulo de estresse ou estímulos, a pessoa neurodivergente perde o controle momentaneamente, manifestando-se através de gritos, choros intensos, movimentos repetitivos ou, em alguns casos, comportamentos agressivos ou autolesivos. É importante destacar que o meltdown não é uma escolha consciente nem um ato de rebeldia; é uma resposta neurológica involuntária, como um “curto-circuito” do sistema nervoso.
Por outro lado, o shutdown representa um processo de retração. Ao invés de externalizar a sobrecarga, a pessoa se fecha internamente: pode tornar-se silenciosa, incapaz de se comunicar ou interagir, e, em casos mais extremos, apresentar paralisia física temporária. O shutdown funciona como um mecanismo de proteção, uma tentativa do cérebro de minimizar o impacto da sobrecarga, economizando energia para preservar o bem-estar.
“Meltdown e shutdown não são escolhas. São pedidos silenciosos de ajuda.”
As consequências dessas reações são profundas.
Para a pessoa neurodivergente, tanto o meltdown quanto o shutdown geram intenso desgaste físico e emocional, podendo levar a longos períodos de recuperação. Além disso, sentimentos de culpa, vergonha e medo do julgamento social são comuns, especialmente em contextos onde há falta de compreensão.
Para as pessoas ao redor, lidar com essas situações também pode ser desafiador. No entanto, é fundamental reconhecer que essas reações não são “manhas” ou “falta de educação”, mas sinais claros de que a pessoa precisa de acolhimento e não de críticas. Oferecer apoio, respeitar os limites e garantir um ambiente seguro e previsível são formas eficazes de minimizar o sofrimento e facilitar a recuperação.
Entender o que são o meltdown e o shutdown é mais do que um exercício de informação; é um compromisso com a construção de um mundo mais humano. Ninguém escolhe ser sobrecarregado. Quando respeitamos os limites invisíveis do outro, damos um passo real em direção à verdadeira inclusão, aquela que não apenas fala sobre acolhimento, mas que o pratica todos os dias.