
Na palma da mão, crianças e adolescentes têm acesso ao mundo midiático…e o mundo, acesso a eles. Em tempos de hiperconexão o uso de celulares, tablets e computadores se tornou parte da rotina das famílias brasileiras. Mas por trás da praticidade das telas, existe um alerta que não pode ser ignorado: o uso excessivo da tecnologia pode estar colocando em risco a saúde mental das nossas crianças e adolescentes: sejam eles típicos ou atípicos.
Pesquisas recentes revelam que o tempo exagerado diante das telas está associado a um aumento significativo de sintomas como ansiedade, irritabilidade, tristeza profunda, distúrbios de sono e dificuldade de concentração. E esse impacto não escolhe perfil: crianças autistas, com TDAH ou em processo de inclusão escolar podem ser ainda mais vulneráveis aos efeitos negativos da superexposição digital.
Além disso, o universo digital muitas vezes incontrolável, pode expor os nossos filhos a conteúdos inadequados, estímulos intensos e comparações constantes nas redes sociais. Um terreno fértil para inseguranças e baixa autoestima.
Isso não significa demonizar a tecnologia. Ela é ferramenta poderosa de acesso, aprendizado e inclusão. Mas, como toda ferramenta, precisa de limites claros e uso consciente. O equilíbrio precisa ser a palavra de ordem.
O desafio está em construir rotinas que promovam o uso saudável das telas com supervisão, pausas e estímulo a outras atividades fundamentais ao desenvolvimento infantil: brincar ao ar livre, se entediar, conversar francas, experimentar o silêncio e criar.
Para isso, o papel da família e da escola é essencial. Escuta ativa, orientação, afeto e presença genuína, ainda são esses os recursos mais potentes para proteger a saúde mental das novas gerações.
Mais do que controlar o tempo de tela, é hora de olhar com atenção para o tempo de qualidade: o que se vive, o que se sente, o que se constrói fora do mundo digital. Porque nenhuma tecnologia substitui o que só o vínculo humano pode oferecer.
⚠️ O alerta é claro: o que parece “entretenimento inofensivo” pode estar moldando o emocional de forma silenciosa e prejudicial.
Saúde emocional também se educa.
O primeiro passo é entender que o uso das telas precisa ser adequado à idade e monitorado de perto. A Organização Mundial da Saúde recomenda que:
- Crianças menores de 2 anos não tenham nenhum tempo de tela passiva (como vídeos ou desenhos);
- De 2 a 5 anos, o limite deve ser de no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão;
- A partir dos 6 anos, o uso deve ser equilibrado com outras atividades e, sempre que possível, acompanhado de conversas educativas.
- De 11 aos 18 anos, entre duas e três horas por dia, com supervisão e evitando o período noturno.
Pais presentes são a melhor proteção.
Em vez de proibir sem diálogo, o ideal é manter um diálogo aberto e franco com os filhos sobre o que consomem, seguem e compartilham. Ensinar o pensamento crítico desde cedo é essencial: muitos desenhos animados têm conteúdos com duplo sentido, jogos online carregam mensagens violentas e redes sociais estão cheias de perfis falsos e influenciadores com valores questionáveis.
Converse sobre cyberbullying e crimes digitais.
Eduque seus filhos sobre interações seguras na internet. Converse regularmente sobre os riscos do ambiente online — como o acesso a conteúdos impróprios, conversas com desconhecidos, o cyberbullying e crimes digitais. Oriente-os sobre a importância de proteger dados pessoais e explique que, uma vez publicado algo na internet pode ser difícil (ou impossível) de apagar. Prevenção começa com informação e diálogo aberto.
Além disso, oriente sobre os riscos reais de golpes online, como pedidos de informações pessoais, links suspeitos e abordagens de desconhecidos.
Dicas práticas para uma rotina mais segura com tecnologia.
- Nada de portas fechadas: o uso de celular e notebook deve acontecer em espaços coletivos da casa, como a sala ou a cozinha.
- Crie regras e determine limites: Estabeleça regras claras para o uso da internet para proteger seus filhos. Defina quais são quais os sites permitidos e quais informações pessoais podem ser compartilhadas. Explique a consequência de violar essas regras limites e certifique-se de aplica-las sempre que for necessário, além de verificar o histórico de navegação que as crianças frequentam. Determine conforme a idade, o tempo máximo por dia e desligue os aparelhos antes de dormir, o descanso também é mental.
- Ative o controle de privacidade e monitore os conteúdos acessados.
- Fale sobre segurança digital com clareza e frequência, como se fala sobre segurança na rua.
- Estimule atividades fora da tela: esportes, jogos de tabuleiro, passeios, leitura, arte:.O mundo real ainda é o melhor espaço para crescer.
- Monitore as atividades online : aplicativos como Google Family Link, Qustodio, Kaspersky Safe Kids e FamiSafe ,estão disponíveis para Android e iOS e ajudam os pais a proteger seus filhos online. Eles permitem limitar o acesso a conteúdos inadequados, monitorar o tempo de uso, acompanhar a localização em tempo real e até receber alertas quando a bateria do celular estiver prestes a acabar.
Inclusão também passa pelo cuidado digital! As crianças neurodivergentes por exemplo, podem se apegar ao uso de telas como forma de regular estímulos ou se acalmar. Por isso, a escuta empática e o acompanhamento profissional são fundamentais. Nenhuma estratégia é única, cada criança tem necessidades e limites específicos.
O importante é entender que educar no mundo digital não é sobre vigiar, é sobre estar junto. No fim das contas, a melhor conexão continua sendo aquela feita olho no olho, com presença, diálogo, afeto e tempo de qualidade.