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FILMES INJUSTIÇADOS PELA CRÍTICA QUE SE TORNARAM CULTS

Por 25/04/2025No Comments10 min de leitura
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O TEMPO É O MAIOR CRÍTICO DE TODOS

O que define, realmente, o sucesso de um filme? Como Administrador e do ponto de vista de Gestão de Projetos, o sucesso de um projeto é definido pelo cumprimento de 3 pilares: Tempo, Qualidade e Custo.

Partindo da premissa acima, a conclusão que chego é que um filme se torna bem-sucedido quando ele “consegue arcar com os Custos e obter lucro” (Bilheteria), quando “consegue ser realizado dentro do prazo planejado e é lançado no momento certo” (o que também se traduz pelo lucro na Bilheteria) e, finalmente, quanto “consegue atingir a qualidade esperada”, o que geralmente é evidenciado pelo valor dado à obra tanto pela Crítica especializada quanto pelo Público.

Dito isso, infelizmente muitos filmes icônicos foram considerados grandes fracassos em suas estreias no cinema, tanto pelo público quanto pela crítica, com uma recepção inicial desastrosa. Com o passar do tempo, seja por estarem à frente de seu tempo, por abordarem temas desconfortáveis ou simplesmente por não se encaixarem no “molde” esperado, alguns desses filmes provaram que o julgamento do tempo pode ser muito mais generoso (e justo) que o da crítica especializada, se tornando clássicos cult atemporais.

Nos anos 80, 90 e início dos anos 2000, muitos destes clássicos cult ainda conseguiram recuperar as despesas de bilheteria com o sucesso nas locações em VHS ou DVD das finadas videolocadoras, ou até mesmo com produtos licenciados. Já nos dias de hoje, dificilmente haverá a possibilidade de se reverter desastres de bilheteria caso as estratégias de marketing para o cinema não tenham sido muito assertivas.

Listo, abaixo, cinco destes casos mais emblemáticos que fazem parte de meu portfólio particular de bons filmes:

🚬 BLADE RUNNER: O CAÇADOR DE ANDRÓIDES (Blade Runner, 1982)

Dirigido por Ridley Scott

Ao estrear, Blade Runner foi visto como um fracasso de público e de crítica. Seus temas filosóficos e seu ritmo contemplativo não agradaram aos espectadores da época. Com o tempo — e várias versões reeditadas —, passou a ser cultuado por sua estética noir futurista e pela discussão profunda sobre o que nos torna humanos, além da inesquecível trilha sonora do músico grego Vangelis.

Recepção inicial: Lento, confuso e pretensioso

Hoje: Clássico definitivo da ficção científica

Orçamento / Receita Global / Arrecadação: US$ 28 milhões / US$ 33,8 milhões / US$ 5,8 milhões

IMDB: 8,1

Rotten Tomatoes: 89% de aprovação da crítica e 91% do público

Onde assistir: Apple TV

🧟‍♂️ CLUBE DA LUTA (Fight Club, 1999)

Dirigido por David Fincher

Lançado em meio a polêmicas e interpretações controversas, Clube da Luta foi duramente criticado por promover o niilismo e a violência. Muitos críticos não entenderam (ou não quiseram entender) sua crítica ao consumismo e à masculinidade tóxica. Hoje, é considerado um dos filmes mais influentes da década de 90 e referência constante na cultura pop.

Recepção inicial: Glorificação da violência gratuita

Hoje: Obra-prima subversiva

Orçamento / Receita Global / Arrecadação: US$ 63 milhões / US$ 101 milhões / US$ 37 milhões

IMDB: 8,8

Rotten Tomatoes: 81% de aprovação da crítica e 96% do público

Onde assistir: Disney+

👽 DONNIE DARKO (2001)

Dirigido por Richard Kelly

Com uma trama envolvendo viagens no tempo, coelhos gigantes e crises existenciais, Donnie Darko passou batido nos cinemas. Mas o boca a boca, os fóruns da internet e a trilha sonora nostálgica o elevaram a clássico cult, reverenciado até nos dias de hoje.

Recepção inicial: Confuso e indecifrável

Hoje: Símbolo da adolescência alternativa dos anos 2000

Orçamento / Receita Global / Arrecadação: US$ 4,5 milhões / US$ 7,6 milhões / US$ 3,1 milhões

IMDB: 8,0

Rotten Tomatoes: 88% de aprovação da crítica e 80% do público

Onde assistir: Prime Vídeo

🧊 ENIGMA DE OUTRO MUNDO (The Thing, 1982)

Dirigido por John Carpenter

Lançado no mesmo verão que E.T. – O Extraterrestre (1982), Enigma de Outro Mundo foi massacrado por sua violência gráfica, atmosfera paranóica e final pessimista. A crítica e o público estavam mais inclinados ao otimismo alienígena de Spielberg. Décadas depois, o filme passou a ser celebrado por seu clima claustrofóbico, pelos incríveis efeitos práticos e pela influência duradoura no gênero de horror e ficção científica. particularmente, é meu filme predileto do gênero terror! Ignore, no entanto, a continuação prequela de 2005, um filme realmente muito ruim.

Recepção inicial: Revoltantemente grotesco

Hoje: Obra-prima do horror cósmico e dos efeitos práticos

Orçamento / Receita Global / Arrecadação: US$ 15 milhões / US$ 20,8 milhões / US$ 4,2 milhões

IMDB: 8,2

Rotten Tomatoes: 85% de aprovação da crítica e 92% do público

Onde assistir: Prime Vídeo e Apple TV

🎮 SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO (Scott Pilgrim vs. the World, 2010)

Dirigido por Edgar Wright

Baseado na HQ de Bryan Lee O’Malley, o filme encantou quem entendeu sua linguagem visual inspirada em videogames, mangás e cultura indie. Mas para o público geral e muitos críticos da época, a mistura parecia excessiva ou “sem profundidade”. Com o tempo, Scott Pilgrim contra o Mundo se tornou um clássico cult graças à estética única, à trilha sonora afiada e aos fãs fiéis que enxergaram na obra uma celebração do estilo sobre a fórmula.

Recepção inicial: Um fracasso comercial com excesso de arquétipos visuais

Hoje: Ícone pop entre millennials e geração gamer

Orçamento / Receita Global / Arrecadação: US$ 60 milhões / US$ 47,6 milhões / US$ 5,8 milhões

IMDB: 7,5

Rotten Tomatoes: 83% de aprovação da crítica e 84% do público

Onde assistir: Prime Vídeo e Apple TV

POR QUE ISSO ACONTECE?

A crítica é, em parte, um reflexo do seu tempo — e os tempos mudam. Muitos filmes que desafiam normas, linguagens ou estéticas tradicionais sofrem rejeição por não seguirem a fórmula vigente. Como exemplo claro, temos o renomado diretor Alfred Hitchcock, que em sua estreia como diretor, com o filme mudo Number 13 (1922), não foi bem recebido pela crítica. Somente anos depois, já com o currículo consolidado com obras incríveis como Rebecca, a Mulher Inesquecível (1940), Festim Diabólico (1948), Um Corpo que cai (1958) e Psicose (1960), houve um resgate das primeiras obras do diretor, reconhecidamente à frente do seu tempo.

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Hitchcock dirigindo Kim Novak e James Stewart em Um Corpo Que Cai – Fonte: Historiasdecinema.com

Outro ponto importante é que nem sempre a visão da crítica é condizente com a visão do público. Enquanto a crítica especializada busca avaliar as obras por detalhes técnicos e pela inovação de conceitos, o público muitas vezes busca somente uma obra que o divirta de forma eficaz. Ainda que nos exemplos acima citados não tenhamos encontrado grandes discordâncias nas avaliações entre público e crítica, temos muitos exemplos recentes, como em Peter Pan e Wendy (2023), adaptação da história clássica lançada diretamente no Disney+, onde a avaliação da crítica foi mediana (65% no Rotten Tomatoes), mas com total desprezo do público (11%). Na minha opinião, que longe de ser crítico, me considero um cinéfilo apaixonado pela sétima arte, este filme realmente é pavoroso, mas 65% dos críticos que assistiram à obra conseguiram encontrar algumas qualidades.

O público, portanto, que encontra algo verdadeiro, mesmo que imperfeito, nestas obras inicialmente rejeitadas pela crítica, é quem geralmente as eleva ao status de cult. Elas acabam ganhando, assim, vida própria, longe da aprovação institucional dos ditos “especialistas”.

OUTROS FILMES QUE MERECEM MENÇÃO

São inúmeras as obras renegadas em sua estreia mas que se tornaram brilhantes com o passar dos anos. Poderia falar sobre várias delas, mas citarei somente 5 que constam em meu acervo particular como filmes que merecem atenção:

  • Abracadabra (Hocus Pocus, 1993), de Kenny Ortega – Um clássico da Disney com história simples mas bem contada. Nostalgia pura!
  • Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, 1986), de John Carpenter – Um fracasso retumbante de bilheteria que viria a se tornar um dos grandes clássicos de Carpenter, influenciando inúmeras obras posteriores como o personagem Raiden do game Mortal Kombat.
  • Dredd (2012), de Pete Travis – É simplesmente uma das melhores adaptações de HQs já feitas, baseada no personagem Juiz Dredd, criado por John Wagner e Carlos Ezquerra. É mesmo uma pena que seu fracasso de bilheteria tenha tornado praticamente impossível uma continuação.
  • Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006), de Sofia Coppola – Filme injustiçado e muito subestimado, com Kirsten Dunst no papel da jovem rainha.
  • Speed Racer (2008), de Lana Wachowski e Lilly Wachowski – Ainda que uns amem e outros odeiem, não há como se passar incólume à adaptação deste mangá e anime clássico dos anos 60. Incompreendido e muito criticado na época, passou a ser visto como uma obra à frente de seu tempo, cartunesca na medida certa!

CONCLUSÃO

Ser cult não é só uma questão de gosto, é um processo de ressignificação. É claro que um fracasso financeiro pode não somente dificultar a continuidade da obra, através de continuações e de spin-offs, mas pode destruir carreiras ou até falir estúdios, principalmente quando falamos sobre a 7ª arte, com cifras milionárias investidas. No entanto, ainda que certos projetos sejam marcados pelos seus fracassos de bilheteria, esses raros casos, como os filmes citados acima, provam que a verdadeira arte muitas vezes precisa de tempo, de contexto e de olhos novos para ser apreciada.

E você? Qual dos filmes acima você já assistiu e considera um clássico cult? Consegue citar mais algum que foi injustiçado (ou ainda é) e que se enquadra nesta categoria? Comente e compartilhe em suas redes sociais.

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