
Para quem como eu era adolescente nos anos 80, é impossível se esquecer das grandes comédias da época, muitas delas proibitivas nos dias de hoje, mas todas muito nostálgicas.
Até no início dos anos 2000, vivemos o auge da comédia nos cinemas, com excelentes comediantes e incríveis diretores deste gênero. Jerry Lewis, Eddie Murphy, Robin Williams, Lily Tomlin, Bill Murray, Jim Carrey, Bette Midler, Jerry Seinfeld, Chevy Chase, John Candy, Richard Pryor, Rick Moranis, Steve Martin, são somente alguns exemplos desta era de ouro.
Em meio a ombreiras, sintetizadores, penteados duvidosos, tivemos algumas das grandes comédias de todos os tempos neste período, com algumas sendo reimaginadas ou tendo sequências tardias até nos dias de hoje por Hollywood.
É claro que ainda há alguns raros exemplos de boas comédias atuais, como A Noite do Jogo (Game Night, 2018), Superbad: É hoje (Superbad, 2007), Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011) e O Que Fazemos nas Sombras (What We do in the Shadows, 2014), mas é cada vez mais raro encontrarmos uma comédia que realmente nos faça “rir largados” como antigamente.
Com o avanço dos streamings e o apetite por remakes e sequências de filmes antigos em alta, muitos clássicos já foram revisitados com resultados mistos. Alguns remakes e algumas sequências, inclusive, estão já em produção ou prestes a estrear:
- Férias Frustradas (Vacation, 2015) – Remake do clássico de Chevy Chase dos anos 80, este filme teve uma recepção mista, longe da genialidade simples de seu antecessor, mas tem algumas boas sacadas.
- Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F, 2024) – Esta continuação do clássico de 1984 trás de volta um dos melhores personagens de Eddie Murphy num longa da Netflix que resgatou a nostalgia e todo o humor do original.
- Corra que a Polícia vem aí! (The Naked Gun, 2025) – Em uma das escalações mais inusitadas, o astro Liam Neeson (A Lista de Schindler, 1993) ficou com o papel do personagem icônico de Leslie Nielson nesta readaptação com cara de remake da trilogia clássica do humor. O último trailer lançado, que pode ser apreciado logo abaixo, mostra que parecem ter acertado no tom.
Fato é que alguns ótimos títulos foram injustamente esquecidos pelos estúdios, e na minha opinião têm tudo para funcionar (e até melhorar!) nas mãos certas.
Na matéria de hoje, resgatei três comédias oitentistas clássicas que, com uma boa atualização de roteiro e com um elenco afiado, poderiam brilhar novamente nas telonas ou nas plataformas de streaming.
ANTES SÓ DO QUE MAL ACOMPANHADO (Planes, Trains & Automobiles, 1987)
Antes só do que Mal Acompanhado – Divulgação: Paramount Pictures
IMDb: 7.6/10
Rotten Tomatoes: 92% (Crítica) | 87% (Público)
Sinopse:
Neal Page (Steve Martin) é um executivo metódico que só quer chegar em casa para o Dia de Ação de Graças. Mas sua viagem vira um pesadelo quando conhece Del Griffith (John Candy), um vendedor de chuveirinhos de cortina falastrão, bagunceiro e “impossível de evitar”. Juntos, eles enfrentam voos cancelados, trens perdidos e hotéis duvidosos numa jornada que vira lição de paciência e empatia.
Por que merece remake:
Steve Martin e John Candy, ambos em seus auges, entregaram atuações hilárias e tocantes nessa comédia de erros sobre dois estranhos tentando chegar em casa para o feriado. A química dos dois segura o filme, misturando caos, irritação e uma mensagem surpreendentemente emocional sobre empatia. Além disso, o diretor John Hughes era um gênio na elaboração de comédias familiares e aqui ele brilha como nunca. Numa adaptação para os dias atuais, mesmo sem a genialidade de Hughes, dá, facilmente, para imaginar essa história mesclando ideias como voos cancelados, motoristas de aplicativo e redes sociais.
Minhas sugestões de equipe técnica para um remake
Diretor: Judd Apatow (O Virgem de 40 Anos, 2005)
Elenco: Jason Bateman (Uma Noite de Jogo, 2018) como o executivo impaciente e Kevin Hart (Jumanji: Próxima Fase, 2019) como o falastrão atrapalhado seriam uma dupla moderna perfeita. Outra opção interessante seria a mesma dupla do ótimo Um Parto de Viagem (2019), Robert Downey Junior e Zach Galifianakis.
Curiosidades:
- O roteiro foi escrito por John Hughes em apenas três dias.
- A cena do aluguel do carro com palavrões foi filmada em um único plano, sem cortes.
- Originalmente, o filme tinha quase 3 horas de duração — mas grande parte foi cortada na edição.
CEGOS, SURDOS E LOUCOS (See No Evil, Hear No Evil, 1989)
Cegos, Surdos e Loucos – Imagem: TriStar Pictures
IMDb: 6.8/10
Rotten Tomatoes: 27% (Crítica) | 71% (Público)
Sinopse:
Dave (Gene Wilder) é surdo. Wally (Richard Pryor) é cego. Quando testemunham — juntos — um assassinato, viram os principais suspeitos. Agora, precisam confiar nos sentidos um do outro para limpar seus nomes, enfrentar vilões perigosos e sobreviver a uma investigação desastrosa.
Por que merece remake:
Gene Wilder e Richard Pryor estavam tanto no auge de suas carreiras quanto da parceria entre os dois nessa trama nonsense sobre dois homens com deficiências envolvidos em um assassinato. A comédia funcionava pelo contraste entre os personagens e pela situação absurda, numa época em que o politicamente incorreto era muito mais comum. Nas mãos de um diretor meticuloso e genial, daria para reinventar esta ideia de forma mais inclusiva, trazendo pessoas com deficiência como os protagonistas, com um humor ácido mas voltado para as situações cotidianas vivenciadas por pessoas com deficiências.
Curiosidades:
- Este foi o terceiro filme da icônica dupla Pryor-Wilder (depois de Loucos de Dar Nó, 1980 e O Maior Amor do Mundo, 1977), e o mais bem-sucedido dentre eles.
- As cenas de ação foram elogiadas na época, apesar de o humor dividir opiniões.
- Wilder escreveu parte do roteiro para adaptar melhor à dupla.
- Wilder foi à Liga de Deficientes Auditivos de Nova York para estudar sobre seu personagem. Foi lá que conheceu sua futura esposa, Karen Boyer.
Minhas sugestões de equipe técnica para um remake
Diretor: Lucia Aniello (Broad City, 2014-2019)
Elenco: Um elenco com atores PCDs reais, como Marlee Matlin (atriz surda vencedora do Oscar por No Ritmo do Coração, 2001) e Robert Tarango (ator cego), daria representatividade sem abrir mão da comédia, que poderia seguir a linha do comediante brasileiro Geraldo Magela.
TROCANDO AS BOLAS (Trading Places, 1983)
Trocando as Bolas – Divulgação: Paramount Pictures
IMDb: 7.5/10
Rotten Tomatoes: 88% (Crítica) | 84% (Público)
Sinopse:
Dois milionários apostam que podem transformar a vida de um mendigo (Eddie Murphy) num empresário de sucesso e arruinar a carreira de um corretor promissor (Dan Aykroyd), apenas para provar um ponto. Em meio à reviravolta de identidades, os dois “trocados” descobrem o jogo sujo da elite e resolvem virar o jogo.
Por que merece remake:
Mais do que ótimas piadas, o filme é uma sátira social sobre desigualdade, racismo e elitismo. Eddie Murphy e Dan Aykroyd formam uma dupla afiada numa trama do também ótimo diretor John Landis (Um Príncipe em Nova York, 1988) que ainda dialoga com temas atuais. Nas mãos de um diretor competente, atualizar esse roteiro para os dias de hoje seria não só engraçado, mas muito instigante.
Curiosidades:
- Foi o primeiro filme a mostrar realmente como funcionam as bolsas de valores em Hollywood.
- O filme é inspirado no clássico literário O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain.
- Há uma conexão com Um Príncipe em Nova York (1988): os ex-milionários irmãos Duke (Ralph Bellamy e Dom Ameche) aparecem brevemente na sequência de 2021.
Minhas sugestões de equipe técnica para um remake
Diretor: Jordan Peele (Corra!, 2017)
Elenco: Donald Glover (Atlanta, 2016-2022) e Channing Tatum (Anjos da Lei, 2012) se encaixariam muito bem nos papeis dos protagonistas.