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ESPERANÇA ALÉM DO QUE OS OLHOS VEEM: TESTEMUNHO DE UMA MÃE ATÍPICA

Por 14/04/2025No Comments4 min de leitura
O autismo entrou na minha vida como um tornado, há 8 anos. Depois daquela tempestade física e emocional, percebi que muita coisa havia sido destruída, mas a estrutura continuava firme. Ou quase!

Nesta edição da nossa coluna, damos voz a uma história real e profundamente tocante.

Com uma escrita sincera e corajosa, Priscila uma mulher multifacetada, esposa, professora, filha dedicada e acima de tudo, mãe. Ela nos convida a conhecer sua vivência com o autismo dento da própria família. Seu relato é marcado por sensibilidade e força. Ao compartilhar sua experiência como mãe de duas meninas, sendo uma delas atípica, Priscila revela não apenas os desafios do dia a dia, mas também a fé e a esperança que sustentam sua caminhada. Este testemunho é um convite a empatia e a reflexão sobre a maternidade que foge dos padrões idealizados, sobre a solidão que tantas mães enfrentam e sobre o poder de se reconstruir mesmo em meio ao caos. Mais do que um desabafo, suas palavras revelam uma jornada de resiliência, fé e amor incondicional. Em um mês em que tanto se fala sobre a conscientização do autismo, este relato certamente tocará o coração de muitos leitores e nos lembrará da importância de valorizar as múltiplas formas de maternar.

Meu nome é Priscila.

Sou esposa, professora, filha de um casal que sempre priorizou a educação e mãe apaixonada da Alice, de 10 anos, e da Mariana, de 8.

O autismo entrou na minha vida como um tornado, há 8 anos. Depois daquela tempestade física e emocional, percebi que muita coisa havia sido destruída, mas a estrutura continuava firme. Ou quase!

Naquele momento tive que fazer uma escolha: me reconstruía colando meus cacos ou sucumbia de vez nos escombros da minha alma.

Apesar de atrativa a segunda opção era logicamente improvável.

Na época da investigação do diagnóstico Alice tinha 2 aninhos e Mariana, apenas 4 meses. Dois bebês!

Foi aí que percebi que naquele momento não daria para sonhar com balé, aula de piano e vida social ativa.

Médicos e terapeutas passariam a ser a nossa realidade a partir de então.

E eu, a mãe, mergulhei de cabeça!

Não consigo precisar quanto tempo levou para eu me reerguer. E para falar a verdade doída, nunca mais fui a mesma.

Minha versão materna atípica ganhou nuances de revolta — confesso —, mas também muita ousadia e um tiquinho de atrevimento.

Descobri que o terreno da atipicidade é solitário. E infelizmente, muito feminino.

Descobri que não havia lugar de fala reservado para as mães que não conseguem avanços robustos com os filhos.

E nós existimos!

A maioria dos nossos filhos não será campeã das Olimpíadas de Matemática — assim como a maioria das crianças típicas também não será!

O que nos difere é a preocupação com a inclusão de um indivíduo que exige tanto suporte numa sociedade altamente capitalista e excludente.

E nesse caso, o indivíduo é nosso filho. Nosso tesouro.

Tudo vira pessoal.

Comentários se tornam invasivos, conselhos se tornam inoportunos e a rede de apoio se esvazia rapidamente.

O motivo é simples: nossos marcos temporais não acompanham os marcos das crianças típicas.

Comumente teremos adolescentes que ainda necessitarão de suporte como se fossem crianças.

E tudo aquilo que não funciona precisa ser substituído — e o século XXI ainda não tem uma forma eficaz de “consertar” nossas crianças.

Lógico que eu gostaria de estar no lugar da mãe cujo filho superou todas as dificuldades e tem uma linda história de superação.

Mas Deus separou para mim o lado de aguardar o suprimento das necessidades diárias e confiar nas bênçãos do porvir.

O meu testemunho é pautado na esperança.

Não me guio pelo que vejo, nem pelo que sinto.

Me guio pela fé no impossível, além do que os olhos veem…

Por Priscila Pereira

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